terça-feira, 30 de outubro de 2012

Alfabeto Visual

          Pessoas compreendem as pinturas de diferentes maneiras: alguns percebem o conteúdo psíquico, outros a ideia racional, e outros conseguem ver a harmonia das formas, das cores, dos movimentos, e das relações entre eles.

Johannes Itten "The Encounter" 1916


          Quanto às crianças, sabe-se da ligação afetiva que têm com suas próprias pinturas e desenhos, mas não existem ainda estudos confiáveis acerca da percepção infantil em relação às obras de arte dos adultos. Por isso, pais e professores podem dar direções, fazer observações bem fundamentadas à medida que a criança cresce e torna-se mais observadora; mas não devem jamais impor suas próprias opiniões.
          Quando estiverem juntos diante de um quadro, deve-se dar bastante tempo para que a pintura haja sobre a criança. Em seguida, mostrar-lhe o nome do pintor, e a data em que o quadro foi pintado, para situá-lo no tempo.
          Quanto ao formato (grande ou pequeno) não tem a menor importância , não influi na qualidade da pintura, pois excelentes pintores usaram pequenos formatos.
          O suporte da obra, sim ( se é pintura sobre parede, sobre madeira, sobre tela, sobre a seda, etc) tem importância na medida que revela não só as técnicas disponíveis naquela época, mas a finalidade com que a pintura foi executada -- para um altar de igreja, um palácio, para ser transportada em navio a outro continente, para ser guardada em estojo e desenrolada em ocasiões especiais, etc.
          O tema figurativo ( paisagem, natureza morta, retrato, autoretrato, nu artístico etc.) é geralmente revelado no título da obra. Mas pinturas abstratas costumam pertencer a séries numeradas.
          Resumo a seguir alguns estudos do professor Johannes Itten  ( para adultos) que facilitam  compreensão das obras de arte:

1- Na linguagem das formas é necessário observar os movimentos: ponteagudos,  violentos em diagonais como os relâmpagos, suaves e ondulados como as águas dos rios, enovelados como molas, angulosos em verticais, horizontais e diagonais.

2- A unidade da obra distingue-se pela  semelhança de formas, de ritmos, de estruturas e nas combinações de cores.

3- A composição de um quadro é um problema de divisão de superfícies a serem preenchidas.

4- Zonas iluminadas ao lado de superfícies escuras são elaborações harmoniosas de contraste claro- escuro na composição de algumas obras.

5- A profundidade é percebida pelo posicionamento das figuras mais à frente ou mais ao fundo.

6- As linhas podem ser nítidas, bem traçadas, contornando as figuras, ou podem ser borradas, diluindo o limite entre a figura e o fundo, o que introduz sensações de suavidade.

7- Pinceladas podem ser leves, fluídas, ou carregadas de tinta, grossas, espessas, cheias de vigor.

8- As cores harmonizam-se por semelhança ou contraste.
          As cores puras (em tinta) são vermelho, amarelo e azul. Misturadas ao branco, tornam-se mais claras; ao preto tornam-se mais escuras. Misturadas entre si geram uma infinidade de combinações e nuances, até chegar ao marron acinzentado, anulando-se mutuamente.
          Cores quentes são aparentadas ao vermelho-amarelo-laranja; e cores frias ao verde-azul-violeta.
          Dourados e prateados são utilizados desde a Idade Média; cores metálicas e sintéticas desde o século XX.
Johannes Itten "Farbkreis"  1916


          Não fazer desse resumo regra imutável, pois é da natureza do artista criar, contrariar postulados. Antes ouvir a criança dizer como percebe esta ou aquela forma ou cor. Proceder com cautela e dar espaço livre à imaginação infantil.
          Evitar exposições de temas pornográficos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Olhar e ver

          Pais não precisam esperar que a escola de seus filhos organize excursões a lugares interessantes a fim de estimular a experiência sensível do mundo. Podem, eles mesmos, criar essas condições.
          Com antecedência, procurem  lojas (de tecidos, padaria, sapataria, serraria, loja de ferragens, de flores, de plástico, etc) e façam contato com os lojistas; perguntem se alguém pode explicar a origem dos produtos expostos, e suas  funções.

          No dia marcado, levem as crianças com bloco sem pauta para que possam fazer anotações e desenhos; permitam que peguem as ferramentas, observem as formas diferentes, sintam a textura dos tecidos, dos couros, dos sapatos, das madeiras, dos plásticos, etc... e desenhem o que acharem interessante, escrevam nomes e particularidades. Façam uma ou duas visitas de cada vez..
          No caso de visitas a museus, centros culturais e exposições de arte, preparem a visita informando-se da história do museu, da origem e das técnicas dos artistas em exposição; procurem despertar nas crianças o desejo de estar em contato direto com as obras.
          Atualmente os museus têm múltiplas funções, desde atividades educativas, venda de livros,, posters, camisetas, souvenirs, café, restaurantes, etc. Tudo é muito estimulante, e as crianças naturalmente expressam alegria nos espaços de interatividade.
          Mas, se você é responsável por um grupo, antes de adentrar o espaço exclusivo destinado à exposição, lembrar que desliguem os celulares, respeitem as faixas de distanciamento das obras, não toquem nas obras (a não ser  que tenham sido planejadas com esta finalidade),  falem baixo, não atravessem diante das pessoas  que estão admirando os quadros. Observar que esse espaço também recebe pesquisadores, especialistas, estudantes de arte que fazem cópias das obras, pessoas que foram ali para trabalharem concentradas. De modo que a comunicação do grupo pode ser feita em voz baixa, o professor pode até combinar alguns sinais quando quiser reunir a turma e fazer uma observação especial. Porém, não é adequado dar uma aula no espaço destinado à exposição.
          Que tudo seja visto em largo tempo, para ser bem assimilado.  O olhar abraça a imagem como um todo, depois discrimina detalhes. É um processo dinâmico, que repetido exercita a inteligência e desenvolve a criatividade.
          O importante é que o grupo mostre-se curioso, interessado, e que o professor demonstre prazer em responder às solicitações. No caso de se sentir inapto para tantas questões, recorrer à visita guiada, e usufruir também de conhecimentos técnicos mais aprofundados.
          O ideal é que a visita seja parte de um projeto concebido pela turma e  já em andamento. O resultado será um arquivo rico de temas e imagens que as crianças utilizarão nas atividades artísticas.
         
         
         

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Arte na Infância

          O momento em que a criança se dispõe a criar - quer se trate de um desenho, modelagem, colagem, quando e está dançando ou cantando -  é muito especial.
          Ela deve ser estimulada corretamente a fim de que sua sensibilidade desabroche com liberdade para que no futuro possa vir a ser um adulto criativo, pessoa capaz de encontrar soluções originais e inteligentes em suas profissões.
          A criança tem o direito de ser feliz.
          E  há práticas de pais, familiares, educadores , e até recreadores de shoppings que auxiliam, mas às vezes prejudicam muito o desenvolvimento das crianças.
          Os pais nunca devem deixar que seus filhos participem de concursos de desenhos e poesias. Isso é extremante prejudicial.
          A criança, quando faz o trabalho artístico, nele projeta o seu físico e também o espiritual. Ela dá o melhor de si. E o melhor não deve, não pode ser comparado em arte, cujos critérios estéticos variam em épocas e lugares diferentes, suscitam múltiplas interpretações.
         A atividade artística da criança deve ser sobretudo lúdica, que dê alegria e prazer na descoberta das formas, dos gestos, dos materiais em transformação. A própria atividade deve ser o objetivo e nunca, jamais, a competição, a comparação com os outros, a avaliação em termos de "bem feito" "mal feito".
         Nunca se deve "ajudar" a criança a desenhar, pegando na mão dela, e consertando aqui e ali o que nos parece estranho.  Isso é uma afronta à liberdade de criar.
         Nos primeiros três anos da infância a criança faz garatujas, e desenhando fala coisas que imagina e as representa graficamente , apesar dos adultos não reconhecerem no tracejado o que está sendo relatado.  De cinco a doze anos, ela já consegue dominar o processo, de modo que já se pode identificar esta ou aquela figura. É um período delicado, em que a criatividade aflora livremente, por isso requer cuidados.
         Não se deve dar modelos a serem copiados, desenhos prontos para colorir, temas fechados.Colorir o desenho feito por outra pessoa limita a criatividade; é como dizer:"faça assim, isso é bom, isso é bonito", não permitindo que a criança expresse sua personalidade em formação com a devida liberdade.
        Mas quando trabalharem livremente seus próprios desenhos e pinturas, ao final, pode-se elogiar o resultado dizendo assim: " que cores bonitas você conseguiu, esse azul ficou bom, não é?". Mas não devemos perguntar: " isto é uma casa? uma pessoa? um bicho? "... porque as proporções e as cores podem estar muito distantes e diferentes do que julga o adulto com sua experiência de observação. São imagens de fantasia conectadas com o mundo interno imaginário , estruturado de modo afetivo, e pertencentes apenas à própria criança. E se  por acaso você interpretou uma coisa por outra, ela pode ficar decepcionada e triste, e isso inibe outras tentativas.
         Auxiliar a criança a observar o mundo ao redor, as cores das folhas que passam do  verde  ao alaranjado e marrom no outono, o som da chuva nas vidraças, a textura dos muros envelhecidos e descascados, o reflexo da luz nas poças d´água, o entardecer, o cheiro dos alimentos, o barulho das máquinas, o canto dos pássaros,  as roupas coloridas no varal, nomear tudo, descobrir detalhes, é a melhor forma de encontrar beleza e enriquecer a experiência infantil.

        Sair fotografando a cidade, os parques, as praias com suas barracas coloridas, o movimento das pessoas nas ruas e  reunir as fotos em pastas no computador.



        Ler bastante para as crianças demonstrando prazer com as aventuras dos personagens, e procurar no dicionário o significado das palavras que elas não compreenderem.
        Aos treze anos o diálogo (curiosidade- observação- compreensão- aproveitamento) faz-se espontaneamente, e se o jovem demonstra real interesse em continuar atividades artísticas, pode ser encaminhado às  escolas específicas, que irão aprofundar o conhecimento técnico.
       Antes disso, é contraproducente impor quaisquer limitações.