terça-feira, 16 de julho de 2013

Exposição KIKRIATURAS de 2014 CEPERJ

         
Exposição Kikriaturas de Angela Cacicedo - 2014
CEPERJ
Sala Djanira
de 5 a 28 de fevereiro de 2014


Coordenação executiva CEPERJ

Joseane Almeida

Angela Cacicedo entre Maria do Carmo da Hora e Deolinda Diana
Enrique e Angela Cacicedo, Cora e o poeta Ivo Torres

Vista da exposição.



Mitologia dos povos antigos do Brasil
Terracota / pintura engobe /
Angela Cacicedo





          

terça-feira, 2 de julho de 2013

Roteiro para ver Brennand

          Deixe o centro de Recife para trás, pegue uma estrada sinuosa em meio a densa vegetação, desbrave cantos e recantos, ponha todos os sentidos alertas, pois no final da estrada o espera uma grata surpresa.
          São sentinelas a postos ou arautos do mistério esses guardiães que nos dão as boas vindas?..

          .Propriedade protegida pelo gradil-símbolo do caçador das florestas, dirige solene o arco armado e a flecha certeira para o céu.
          Dentro da oficina Brennand, a fábrica dinâmica fervilha de trabalhadores: oleiros, ajudantes, aprendizes, jardineiros, projetistas, equipe de conservação. Em torno, o desdobramento dos jardins que se encaixam uns dentro dos outros.

          Ao lado da oficina, nos altos muros do templo-castelo, pássaros imóveis parecem suster o tempo, enquanto cisnes vivos passeiam sobre o piso cerâmico de modelos variados. 

No altar da vida, o ovo da procriação reina majestoso entre deuses polimorfos que cantam no silêncio da matéria.


          De onde vem tanta inspiração? - pergunta-se. Melhor abrir a porta transparente para encontrar a resposta. Quem são essas mulheres sensuais que brincam de esconde-esconde com o espectador, fugidias e à meia luz? Não consigo vê-las por completo, e sinto que algo mais grave, profundo, sub-reptício move-se nesse lugar... A menina estende-se provocativamente no sofá; a estudante cruza as pernas enquanto eleva os braços com languidez; alguém corre pelo beco da cidade; um cavalheiro resmunga ao ouvido da mulher; a noiva olha o espectador com enfado; as viúvas não revelam segredos, mas têm olhos duros e tristes; a história passada, presente, o registro das histórias. Em seus desenhos e pinturas Brennand observa sem ser visto, e respeita a integridade do corpo da mulher. As cores são naturais ou intensas, as combinações fazem-se pelos temas, e são tramas sutis.

         O recorte exterior que se vê ( ou se adivinha) entre pinturas - sob o olhar másculo de Brennand- não se encontra em suas esculturas.
          No galpão reservado às figuras em terracota, o mundo perde os parâmetros do real. Uma orgia de formas parece emergir do subconsciente de todos nós. Ali vivem seres mitológicos, heróis e perdedores, cavaleiros-andantes e animais que são gente ao mesmo tempo. É a vida e a morte que florescem em todas as suas possibilidades.

          É a intimidade posta a nu. São as aflições das castelãs, são os desejos não realizados, são as distorções. Olhares arregalados, olhares dúbios, olhares fugidios, mulheres sem olhos... Gente máquina, gente cachorro, flores-gente...

           Dois pescoços longos com bicos de patos enroscam-se amorosamente; um falo cai sobre uma bacia; um seio encontra uma coxa; os vermes proliferam na cabeça da serpente; um ovo se quebra; uma cabeça esfacelada; algo ( ou alguém) se sustenta sobre um pedestal insólito; o robot vermelho arrasta o corpo desajeitado; o crânio de um extraterrestre conversa com o de um soldado, que responde do interior do elmo entreaberto; uma cabeça dobra-se perigosamente sobre a nuca e expele veias intumescidas; o ventre guarda um ser que ainda não tem forma definida; o cardume passa alegre sobre o painel; as flores têm olhos salientes; os frades vigiam sob o capuz; tudo vive, tudo se transforma na dança psicodélica da mente efervescente e propícia.

         

Os poemas gravados nas paredes são registros dessa magnífica arte de rasgar o véu das aparências e mergulhar no poço dos sonhos, vagando incerto em  terras do sem fim...


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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Visita ao Parque da Luz (SP)

          O antigo Jardim Botânico do bairro da Luz, na capital paulista, foi transformado em parque no final do séc. XIX. Além de oferecer ao visitante um espaço de área verde muito agradável e bem cuidado, permite descobrir a cada contorno do jardim excelentes obras de arte modernas e contemporâneas.
          Os modernistas estão representados nas obras de Victor Brecheret e Lasar Segall. De Brecheret tem-se "Carregadora de Perfume" (1923/24). Escultura em bronze de figura feminina ereta, o braço esquerdo  dobrado sobre o ventre sustenta o braço direito, que erguido, sustenta o frasco de perfume apoiado sobre o ombro; o rosto volta-se para a esquerda. Obra de linhas suaves, tem influência de Maillol.
         De Lasar Segall são "Três Jovens" (1939): um grupo de moças unidas num só bloco, com igual influência dos modernistas de Paris.
          De inspiração mais contemporânea destaca-se "Fita" de Franz Weissmann (1985): escultura em aço pintado, que reproduz a imagem de uma fita vermelha dobrada sobre si mesma, em escala de grandes dimensões.

          "Espaço-vibração" (2000) de Yutaka Toyota é uma lâmina de aço e concreto, retorcida e enrolada. As duas obras dialogam entre si, uma com linhas retas e a outra com curvas sinuosas.

          Já a escultura em mármore "Encontro e Desencontro" (2002) de Arcangelo Ianelli propõe na mesma obra um diálogo poético de formas sensuais, estabelecido entre as linhas retas e as linhas curvas opostas.

          "Pincelada Tridimensional" (2000) de Marcello Nitsche projeta no espaço aquela mancha casual de forma imprecisa que às vezes ocorre na prática do fazer da obra, capturada pelo olhar sensível do artista. É uma estrutura de ferro, perfurada, e pintada em dégradée azul claro e índigo.
          Nuno Ramos propõe uma reflexão sobre o meio ambiente com a escultura "Craca" (1995). Trata-se de uma estrutura em alumínio que se eleva do chão como uma onda em fluxo de projeção. No interior estão fixados em tamanho natural detritos do leito de um rio, talvez mar cheio de impurezas, estrela-do-mar, conchas, entulhos, pedras, ossos, caranguejos e pássaros mortos.

          Lygia Reinach em "Colar" (2000) enriquece com sua obra a natureza deslumbrante do parque: construiu um colar de imensas contas cerâmicas, cujas superfícies possuem  ranhuras diferentes, tracejados gráficos, signos e símbolos enigmáticos; o colar pende das árvores sobre o tapete verde da grama do jardim.
          "Sem Título" (2001) de Macaparana dialoga com o espaço, a paisagem do entorno. Trata-se de uma estrutura em aço pintado na forma da moldura de uma grande janela aberta, por onde pode-se apreciar um  requintado panorama.

          O parque ainda possui outras obras significativas.
          Tudo isso bem guardado pelo braço heroico de Giuseppe Garibaldi, cujo olhar estende-se do alto do busto erguido em sua  homenagem.
         E se a pessoa quiser alongar  o passeio, pode aproveitar para almoçar ou tomar café no restaurante da Pinacoteca de São Paulo, conhecer o Museu da Língua Portuguesa em frente, ou andar até a Museu de Arte Sacra. Tudo bem conservado, com guias bem treinados, o que coloca o Estado de São Paulo entre os que melhor preservam o patrimônio cultural do Brasil. Parabéns. Vale a pena conhecer.


terça-feira, 14 de maio de 2013

O Corpo Nu

          A arte oriental ( na China e no Japão), que evoluiu ligada à religião e à meditação, deu preferência a temas de paisagens, brumas e nuvens, cenas búdicas, caligrafia, em seguida flores e plantas, belas mulheres e bichos em último lugar.
          Em países árabes, por influência da religião muçulmana, a arte inspirou-se na percepção do infinito ( o menor dentro do maior desdobra-se para alcançar a beleza absoluta). Padrões geométricos, filigranas, tessituras, arabescos, ramagens e a caligrafia foram desenvolvidos em profusão e a arte islâmica recusou a representação do corpo despido.
          Na arte ocidental os antigos gregos buscaram a representação do corpo através da observação direta do real: o escorço no desenho dos membros, as texturas dos pelos e da derme, o volume dos músculos e a expressão corporal. Suas pinturas e esculturas representavam deuses, semi-deuses, ninfas e heróis.

          Durante a Idade Média  o dogma cristão impedia a representação do nu, com exceção do corpo de Cristo semidespido na cruz e coberto de chagas, e Adão e Eva no paraíso.



         O Renascimento (séc. XV) renovou o gosto pelo estudo da anatomia, e a partir daí   pintores e escultores renascentistas modelaram tanto os santos católicos como os  deuses pagãos. Em 1538 Ticiano pintou "Vênus de Urbino":
         A expansão e influência da cultura grega por toda Europa (difundida pelos romanos conquistadores) aprofundaram  a experiência e regulamentaram  a arte acadêmica, com base  na beleza idealizada.
          Até o final do século XIX, na Europa,  o corpo nu de deuses e deusas pagãos eram vistos  com naturalidade. No entanto,  as primeiras representações realistas do corpo feminino - como a pintura de Edouard Manet "Olímpia" (1863), que retrata uma prostituta cujo olhar direto foi considerado insolente e vulgar -  foram menosprezadas pelo público.


 Na sequência do realismo (séc. XX), e  misturando  a ficção , o íntimo e o profano encontra-se a arte  de Pierre Klossowski com seus "Tabeaux Vivants".

          No Brasil, no séc. XIX, o ensino artístico seguia os modelos europeus, cuja representação do nu estava ligada ao ideal clássico. A evolução para o Romantismo permitiu a introdução de figuras indígenas na literatura e na pintura -- como  "Moema" (1863) de Vitor Meireles.

          Os silvícolas já tinham  sido retratados anteriormente por pintores viajantes como Albert Eckhout e Debret. A pintura corporal dos silvícolas, feita com urucum, jenipapo e calcário, servia de enfeite ou fazia parte de ritual, sendo retirada e substituída tão logo cumpria sua finalidade. Povos africanos provenientes do Congo e Moçambique também portavam pinturas corporais, algumas com escarnificação.
          Hoje vê-se um retorno da pintura corporal, na difusão de tatuagens ( permanentes), num esforço para identificação, nomeação ou adição estética. No atual  mundo incerto e massificado, essa  moda reflete a ânsia do brasileiro de perceber-se único, mas apegado a signos, emblemas, ornamentos que o defina e oriente, muitas vezes de inspiração tribal.
          Na arte contemporânea ( laica) o corpo é "um campo de batalhas", suporte ou meio de expressão artística, trabalhado ora na superfície com múltiplas performances, ora no interior, polo de integração e desintegração formal.
          Lia Chaia desenha o corpo com uma caneta: a caneta circula sobre a pele, faz espécie de ritual de reconhecimento, como uma brincadeira de criança; repete os movimentos até o fim da carga da caneta.

          Ana Maria Maiolino desperta a memória corporal, engole um longo fio, e a imagem do vídeo resultante se desdobra no tempo, repete-se infinitamente.

         Nazareth Pacheco aborda o lado estético das práticas de manipulação do corpo para  tratamento de pele, de cabelo, lipoaspiração, implante cirúrgico, etc. Apresenta objetos cortantes e de perfuração que remetem ao medo e à repulsa.

          Victor Arruda pinta o corpo todo estraçalhado, despedaçado como referência de perda e de violência sofrida.

          Cristina Salgado insere  feminilidade às esculturas de imagens díspares do corpo, como dedos muito longos que indicam uma direção, e formas inusitadas que se unem de modo surpreendente.

          Outra abordagem parece incrementar o embate: é o interesse pelos mortos-vivos, zumbis e vampiros no cinema, teatro, performances, e expressões afins. Até o  filósofo David  Chalmers acredita  que os zumbis são fisicamente possíveis...Mas, se  ao rei absolutista cabia a decisão de deixar viver ou fazer morrer, hoje cabe aos cientistas a decisão de fazer viver (inseminação artificial) ou deixar morrer( eutanásia). Transformação inquietante e problemática que engendra a obsessão pelo corpo dos ressuscitados , daqueles aos quais o direito ( de vida e morte) não se aplica mais.
          Direção mórbida e irreverente, coloca a arte no limite entre a fascinação e a repulsa, a violência e a complacência com a desintegração física. Demanda ao artista muita criatividade na elaboração de personagens, mas para o público levanta sérios questionamentos relativos à recepção da imagem. Que consequências psicológicas trará  para o espectador o assédio de tantas imagens violentas e deprimentes? O futuro dirá, e poderá constar da exaltação do insólito, do avanço das doenças psicossomáticas, ou do inesperado retorno ao sagrado, ao desejo de união entre o corpo e a alma em busca da perfeição, da harmonia, da beleza , da paz, da integridade e da compaixão. 
          "A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente".- disse Aristóteles.


         
         
         

quinta-feira, 11 de abril de 2013

As Idades do Olhar

       As Imagens na História da Arte Ocidental
                                    PRIMEIRA IDADE DO OLHAR(tempo cíclico)
A Imagem é:
  • um ser vivente e vidente
  • um ídolo que garante proteção e saúde
  • refere-se à eternidade, ao espaço da alma
  • atribuída ao grupo ou anônima
  • originária da Antiguidade ou da Idade Média
  • é um tesouro público
Objeto de culto:
O SANTO (o sagrado)
"EU VOS GUARDO"


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SEGUNDA IDADE DO OLHAR (tempo linear) 
A Imagem é:
  • uma coisa que é vista
  • representação ilusória do real
  • obra de arte que busca deleitar
  • refere-se à tradição (transmissão de valores)
  • originária da Europa ( Florença séc. XV)
  • atribuída ao artista
  • pertence ao colecionador ou particular
Objeto de culto:
 O BELO
"EU VOS AGRADO"

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TERCEIRA IDADE DO OLHAR ( tempo pontual)
A Imagem é:

  • uma percepção virtual
  • espera informar e divertir
  • refere-se à atualidade
  • atribuída à empresa ( empreendimento)
  • domínio privado ou público ( reprodução)
  • originária de Nova York ( final do séc. XX)
 Objeto de culto:
O NOVO
"EU VOS SURPREENDO"

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Compilação do resumo do livro:
Debray, Régis: Vie et Mort de l`Image, Éditions Gallimard, France, 1992.





segunda-feira, 25 de março de 2013

A Bela Imagem

          O programa "Triângulo das Geraes" apresenta projetos de excelente qualidade: busca divulgar iniciativas  educacionais e culturais que têm êxito nos municípios mineiros.
           Alguns projetos são direcionados para a pesquisa da biografia dos  heróis, políticos, escritores, poetas, pintores, músicos e demais personalidades da história de Minas. A apresentação do programa na tv  é feita com grande sensibilidade, e os entrevistados (ou descendentes) podem expressar livremente suas opiniões, com simplicidade.
          Os historiadores explicam os monumentos históricos, descrevem a  arquitetura, as esculturas e pinturas barrocas e rococós que são o orgulho da arte que floresceu nas cidades mineiras durante os séculos XVII e XVIII. Mostram também como as pessoas convivem com essas obras, os meios de conservação do patrimônio, e a importância para o turismo.
          Outros projetos visam bens culturais em constante transformação.
          A orquestra de vidro que os professores de Educação Musical de Passos criaram com as crianças utiliza poucos recursos  com muita criatividade: as garrafas cheias de água em diferentes quantidades propagam   sons correspondentes à escala musical, à medida em que são tocadas pelas baquetas revestidas de durepox. A flauta doce acompanha o conjunto, e o resultado é ótimo.
          Já o projeto " O rio que anda para trás" busca resgatar conhecimentos ancestrais das populações do cerrado e povoados distantes. O raizeiro ensina o uso correto das plantas medicinais e os alunos ( orientados pela professora) anotam e transformam em livros digitalizados. É uma iniciativa de grande valor, pois essas referências da biodiversidade tendem a perder-se por causa da concorrência dos remédios industrializados. 
          A revitalização das brincadeiras de rua, as rodas, cirandas, cantigas e jogos coletivos que vão  se transformando com as novas gerações. Nessas brincadeiras as crianças treinam o relacionamento com o outro, a gentileza, o respeito, o contato físico, exercitam a alegria e o afeto. Enquanto as crianças das grandes cidades estão restritas ao computador e à disciplina escolar, a periferia ainda guarda esse espaço de liberdade.
          E não só no Brasil esse movimento de resgate tende a crescer. Na França (tv 5) nas pequenas cidades, as professoras primárias estabelecem parcerias com os jardineiros, e levam as crianças semanalmente para cultivarem a terra, identificando o nome  das flores e as qualidades de cada uma; no pomar e na horta aprendem o tempo certo de plantar e colher. Após a colheita, fazem sopa e salada de frutas.
           Há interesse em preservar a memória para o bem das futuras gerações. Assim pode-se dizer que enquanto o rio anda para trás, a margem clareia a página....e emoldura uma bela imagem de inestimável valor....
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          Descubra as vantagens de fazer Horta Caseira e Agricultura Natural no site da Fundação Mokiti Okada: fmo@fmo.org.br .

quarta-feira, 13 de março de 2013

A nossa imagem

          No  Canal Brasil Roberto d´Ávila recebeu Domenico de Masi. O sociólogo italiano mostrou conhecer bem os problemas do Brasil. Fez uma comparação bastante interessante: disse que as telenovelas (por seu alcance midiático) cumprem um papel mais importante do que cumpriu a Capela Sistina pintada em 1541 por Miguel Ângelo.
          A obra ( O Juízo Final) tinha por finalidade traduzir em imagens relatos bíblicos, seguia a tradição que se iniciara na Idade Média de facilitar a compreensão daqueles que não sabiam ler, a maioria. Miguel Ângelo estudou a anatomia, expressões fisionômicas, gestos, panejamentos, cores e efeitos de pinceladas. Criou imagens idealizadas de Jesus e dos santos.  Pintou a si mesmo na pele que segura São Bartolomeu, o santo que foi esfolado vivo em martírio por não querer renunciar à sua fé.  Nessa obra, a arte imita a vida eterna dos que almejam a salvação em Cristo.
          Já as telenovelas brasileiras inspiram-se na vida real, encontros e desencontros vistos ou imaginados, espécie de desdobramento da Comédia Humana, obra maior de Honoré de Balzac. No entanto, falta-lhes o que de Masi analisa muito bem: a profundidade da experiência, a originalidade do contexto múltiplo cultural do Brasil.
          Aprofundar o olhar significa reler e repensar as obras de Gilberto Freire, Monteiro Lobato ( para adultos), Lima Barreto, Mario de Andrade, Pierre Verger, Sílvio Romero, Antonio Calado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Roberto da Matta, Arthur Ramos, Nina Rodrigues, João Ubaldo Ribeiro, Manuela Carneiro da Cunha, Alberto Costa e Silva, Eugênio Bucci,  Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Guimarães Rosa,  e tantos outros.
         
           A enorme audiência do incisivo meio de comunicação, difusão e transformação de costumes  (a tv) permite ao autor e roteirista dispor de poderosa fórmula de educação popular.

           Se na França a educação popular chegou com Diderot, efetivou-se quando a Revolução francesa ergueu a arquitetura falante e difundiu princípios como : "As virtudes do povo são os mais firmes sustentáculos da igualdade: civismo, concórdia, trabalho, economia e sabedoria".

            Mas no Brasil a educação popular ainda caminha lentamente. Para acelerar o processo, Domenico de Masi propõe um reposicionamento dos intelectuais brasileiros, atitude incisiva e consistente entre criadores e criaturas. Aprofundar o olhar e agir.

          Ler e repensar não quer dizer copiar, mas  encontrar embasamento para a criação de personagens verossímeis, com atitudes coerentes e lógicas,  que  engendrem transformações úteis do ponto de vista pessoal e social. Se a novela pode lançar modas (vestidos, sapatos, penteados, etc,) que são copiadas imediatamente, também pode direcionar o enredo para soluções inteligentes de superação das dificuldades coletivas: trabalho em equipe, invenções originais, propostas políticas e libertárias, efetivos assentamentos em lei das questões de ordem pública, redescoberta de hábitos saudáveis, valorização da auto- estima e da honestidade, elevação do nível de atuação dos personagens para que alcancem perspectivas de amplitude ética e moral. O futuro não é mais o que era, mas ainda é possível agir sobre ele.
          Nesse caso, a vida imitaria a arte, e todos teriam muito a ganhar com isso... Como é difícil observar a si mesmo! Obrigado a de Masi por ajudar-nos nessa difícil tarefa!
          Como declarou de Miguel Ângelo "reformar uma pintura não custa muito", mas pôr o mundo em ordem...

Sem autenticidade, sem educação, sem liberdade no seu significado mais amplo - na relação consigo mesmo, com as próprias ideias pré-concebidas, até mesmo com o próprio povo e com a própria história - não se pode imaginar um artista verdadeiro; sem este ar não é possível respirar."
Ivan Turgueniev -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
          O documentário "Walachai" de Rejane Zilles faz exatamente o que De Masi propõe:  nele o Brasil devolve ao mundo arte, beleza e sabedoria que recebeu dos alemães, hoje  readaptados ao sul do país, onde integram uma comunidade em perfeita harmonia com a natureza. Envoltos numa paisagem deslumbrante, descendentes gaúchos praticam  a agricultura natural, constroem seus próprios instrumentos de trabalho e transporte. São felizes em sua simplicidade, unidos por forte amizade, e desfrutam de um paraíso sem igual. Vale a pena assistir.