quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Educação Artística

          A educação artística para crianças e adolescentes é uma disciplina que orienta a reflexão sobre as artes em geral ( artes plásticas e visuais, teatro, literatura, dança, música etc.), o intercâmbio entre elas  e seus desdobramentos nas culturas erudita e popular.
          Para orientar essa reflexão precisa o professor prepara-se bem. Estabelecer uma espécie de " compromisso eterno" com a Arte, isto é, cultivar pensamento constante e profundo em relação às obras dos artistas, às suas próprias criações e as de seus alunos. Ler bons livros de História da Arte, frequentar exposições, debates. Deve ir ao teatro, ouvir músicas de boa qualidade, manter a curiosidade sobre as novas tecnologias e as manifestações artísticas contemporâneas.
          Acima de tudo precisa gostar do que faz, pois só pode despertar interesse pela arte o professor que tornou-se por seus próprios esforços apreciador costumeiro, bastante habilitado e que trabalha com amor.
          O corpo da escola ( grupo, abrigo, centro cultural, orfanato) flexível para acatar manifestações artísticas nas dependências comuns; os pais conscientes de que os "passeios" a museus são importantes para o desenvolvimento dos alunos; o espaço físico ( sala, armários, materiais) bem localizado e suprido de tudo o que é necessário faz toda a diferença.
          Então, quando tudo estiver bem planejado, pode o professor iniciar o projeto artístico, que poderá estar inserido num grande projeto comum de tema aberto com a escola, ou não.
          Que leve  para a sala uma obra de arte, convide um artista ou artesão para falar de seu trabalho, ou faça uma visita a uma exposição. Isso desencadeará os processos necessários para o desenvolvimento das atividades.
          A prática da observação minuciosa suscitará questionamentos que terão respostas nas pesquisas que as crianças farão por internet ou nas bibliotecas locais. As pesquisas podem vir na íntegra, e serão lidas  e debatidas em classe como "descobertas" que as crianças fizeram.   Daí pode surgir o legítimo desejo de fazer experimentações com as técnicas com as quais tiveram contato. Esse será o trabalho prático ( proposta triangular).
          O professor deve orientar criações para datas comemorativas somente  quando isso estiver de acordo com o projeto desenvolvido por seus alunos no momento.
          Conforme com o pensamento de Erich Fromm no livro  "Psicanálise e Religião":
            " O homem deve ser independente e livre, um fim em si mesmo, e não um meio para os objetivos de outra pessoa. Deve relacionar-se  aos semelhantes pelo amor, pois se não dispõe de tal capacidade, torna-se uma casca vazia, mesmo que possua poder, riqueza e inteligência"
      

domingo, 11 de novembro de 2012

Oficina da Palavra

          A oficina da palavra reúne jogos coletivos, brincadeiras e atividades que enriquecem as linguagens oral e escrita das crianças após a alfabetização. Se usada em pequenos grupos de até 15 crianças, dá melhores resultados; deve-se trabalhar em torno de uma grande mesa ou 4 pequenas mesas unidas. O professor orientador precisa lembrar que estará lidando todo o tempo com sensibilidades, com personalidades em formação. Assim, usar de gentileza, promover clima de confiança e afeição é essencial.

Atividades de linguagem oral

1- Jogo da cartomante e consulente:
          Improvise um turbante com um lenço de cor vibrante; recorte uma cartolina em forma de umas 30  cartas de baralho e reserve; recorte figuras sugestivas( que lembrem viagens, objetos, pessoas, festas, trabalho, etc) de revistas velhas, cole em um dos lados das cartas.
          Atividade:
          Escolha uma dupla para serem a cartomante e a consulente; a cartomante vai colocar as cartas para a consulente, dispondo em forma de cruz 3 na cabeça, 3 no coração, 3 nos pés; 3 à esquerda, 3 à direita viradas para baixo.
          A cartomante então desvira as cartas e diz a sorte da outra criança de acordo com o que vê.
          O orientador vai corrigindo a linguagem oral. Atenção: mesmo que as crianças peçam, o orientador nunca deve dizer a sorte de ninguém; porque isso pode influenciar
Normalistas treinam o Jogo da Cartomante para usarem posteriormente em sala de aula

2- Narrativa continuada:
          Viagem de trem ( ou ônibus) narrada oralmente.
          O trem partiu e....
          Uma criança deve continuar a narrativa, acrescentando mais acontecimentos e detalhes conforme mandar sua imaginação; o orientador interrompe e passa a palavra a outra criança assim sucessivamente; corrigir a linguagem oral.
3- Baú de sonhos:
          O orientador desenha vários baús no quadro negro; depois pede que cada criança relate oralmente um sonho para guardar no baú; escreve o título do sonho dentro do baú; corrigir a linguagem oral.
4- Jogo dos provérbios:
          Preparação: recorte vários cartões em cartolina; em cada um escreva um provérbio;
          Apresente às crianças todos virados para baixo; elas devem escolher apenas um e tentar explicar o que significa; o orientador corrige a linguagem oral.
          Ex: Quem cochicha o rabo espicha; quem procura acha; quem muito fala dá bom dia a cavalo; longe dos olhos longe do coração.... etc.
5- A frase incompleta:
          Preparação: escreva em cartões frases incompletas; apresente às crianças todos virados para baixo; cada criança escolhe o seu, desvira e vai completar a frase e prosseguir a narrativa oralmente.Ex;
          De manhã, peguei a mochila e saí...
          Ontem estava com vontade de tomar sorvete, então...
          Levei um susto no dia.....
Corrigir sempre a linguagem oral.
Criação de textos
1- História ilustrada:
         Preparação: recorte de revistas muitas fotos sugestivas;
         Espalhe todas sobre a mesa grande; peça que as crianças escolham as que mais lhes agrade; depois peça que escrevam pequena história sobre duas ou três dessas fotos.
Corrigir a redação.
2-Composição com palavras associadas:
          Peça que as crianças escolham uma palavra; escreva essa palavra no quadro posicionando  uma letra embaixo da outra; peça que digam palavras associadas; elas devem então fazer um texto em que se encontrem essas palavras; também pode ser uma redação coletiva ditada pelas crianças.Ex: CIDADE
C- casa cama cinema
I - ilha
D- dono dinheiro
A árvore água
D - distância
E - espaço espigão escola
3- Fábulas:
          Preparação: recorte fotos de animais de revistas;
          Peça que as crianças escolham 2 ou 3 animais; em seguida podem fazer uma pequena história com esses animais; corrigir o texto.
4- A palavra estranha:
          O orientador procura no dicionário uma palavra muito estranha, de difícil elucidação de sentido pelas crianças; ex: dacriorréia, pogonóforo , tubã, etc
          Depois pede que escrevam um pequeno texto em que apareça aquela palavra;quando todos acabarem,  as crianças lêem oralmente..
          Finalmente o orientador pega o dicionário e decifra o sentido  exato da palavra, o significado verdadeiro.
5- Salada ficção:
           Preparação :o professor lê ou conta vários contos de fadas e fábulas para as crianças durante o ano letivo;
          Depois de alguns meses, pede que as crianças inventem uma história misturando esses contos de fadas.
6- Listas ( ações) :
          O professor relaciona no quadro:
objetos / personagem/ ação/ lugar
em seguida preenche as listas com palavras ditadas pelas crianças sempre relacionadas entre si em cada uma das linhas; como atividade as crianças devem escolher uma das linhas para contar a história ali sugerida.
7-Listas: ( a qualidade das palavras)
          O professor pede que as crianças relacionem oralmente palavras :
feias / curtas/ compridas/ más/ gentis/ cor de rosa/ apagadas/ apimentadas/ etc.
e vai escrevendo no quadro negro as listas;
          Depois pede que as crianças escolham uma dessas palavras e façam um pequeno texto.
8- Listas ; ( binômio fantástico)
        O professor escreve no quadro duas listas de coisas ditadas pelas crianças; depois une aleatoriamente as palavras da primeira lista com as palavras da segunda lista, criando assim um binômio fantástico. Ex:
pirulito-poste
cama-avião
sorvete-camarão
etc.
Em seguida pede que escolham um dos binômios e façam um pequeno texto.
9- Listas: (prefixo arbitrário)
          O professor relaciona no quadro uma lista de prefixos; ex: bi, des, tri, micro, maxi, pro, pre, extra, contra, vice, trans, etc.
          Depois pede que as crianças ditem uma segunda lista dizendo nomes de coisas; em seguida une as duas listas criando palavras inusitadas.Ex:tripinico, bisapo, microsaudade,extraburro, desmochila, translixo, etc
          Devem então escolher uma das palavras e escrever um texto.
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          A oficina da palavra tem sua culminância no final do ano, quando a criança criará um livro com o texto escolhido por ela entre os que ela inventou durante o ano.



          

         

          Exposição dos livros e comemoração são apropriadas. As crianças podem fazer os convites. Vale a pena festejar.



Alunos da Escola Elisiário Matta (Município de Maricá) preparam a Oficina da Palavra / 2013
Pedagoga: Maria de Lourdes Germano
Projeto da Oficina e artista convidada: Angela Cacicedo

domingo, 4 de novembro de 2012

Teatro e teatrinho

          Parece que o Teatro de adultos (drama, comédia) não interessa diretamente às crianças.
          No entanto, o Teatro feito por adultos e direcionado ao público infantil é uma das melhores formas de enriquecer a experiência das crianças. Nele encontram-se expectativa, surpresa, poesia, bom humor, problemas e soluções na medida certa da compreensão infantil. O Teatro alimenta o mundo mágico de fantasia e de sonho. O Circo também continua sendo uma das melhores diversões.
          Porém, o teatrinho feito pelas próprias crianças trabalha a experiência direta, o que é muito gratificante para elas.
          Pode-se preceder esta atividade com um exercício de sensibilização, dramatização a escolher:

1- Jogo do boneco:
 Peça às crianças que imitem um boneco inflado que se esvazia; depois enche, depois esvazia, etc

2- Jogo do bastão:
Com o auxílio de um bastão, peça a uma criança que o utilize em alguma representação. As outras crianças devem adivinhar o que o bastão representa  (ex: espingarda, muleta, corneta, cassetete, etc,)

3- Jogo das profissões:
Peça que uma crianças imite com gestos uma profissão. As outras crianças devem adivinhar de que profissão se trata.

O teatrinho ( para crianças de 7 a 12 anos) prepara-se em etapas:
a- Elaboração dos personagens
b- Ficha dos personagens
c- Diálogos
d- Representação

                                                       Elaboração dos personagens
          Para teatro de fantoches utilizar meias coloridas com botões ou olhos de bichinhos de pelúcia, cabelos de lã e outros materiais. Ensiná-los a pregar os detalhes ou pintar com caneta olhos nariz e boca..
          Será representado sobre a mesa.
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          Para teatro de vara pedir que desenhem cada um seu personagem na cartolina, recorte em volta, copie o mesmo molde em outra cartolina, desenhe as costas do personagem. Colar frente e costas com uma vareta de churrasco no meio.
          Será representado atrás de um pano jogado sobre um bambu ou trave de madeira presos na extremidade.
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          Para teatro de sombras, pedir que desenhem cada um seu personagem na cartolina; recortar o contorno por dentro e colar papel celofane colorido nos espaços vazados. Cuidar para deixar lugar onde colar  uma haste de papelão ou vareta que sustente o personagem na vertical e a vareta na horizontal.
          Será representado numa caixa de papelão vazada no fundo, tipo tela de televisão, e com papel manteiga branco  no lugar da tela. Um foco de luz atrás.
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          Para teatro de livre criação apresentar diferentes materiais às crianças ( algodão, bombril, pano, papel dourado e prateado de embalagens, lã, barbante, e outros) e pedir que cada um elabore seu personagem, utilizando esses materiais,
          Será representado sobre a mesa.


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          Para teatro de figuras gigantes de Olinda encher uma bola de festa para ser o rosto, cortar um colarinho de cartolina para ser o pescoço; cobrir a bola e o colarinho juntos com pedaços de jornal em várias camadas; deixar secar; no dia seguinte cobrir com massa corrida, fazendo formato de olhos, nariz e boca; esperar secar e pintar com tinta plástica. Quando  bola esvaziar, encher com jornal, meter um cabo de vassoura; pregar os ombros em cruz; roupas de pano de acordo com o personagem. Encher luvas no lugar das mãos. Fazer um furo na cintura para que a criança enxergue quando se meter por baixo.
          Será representado ao ar livre.
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          Para teatro em que as próprias crianças se tornarão seus personagens, apresentar diferentes acessórios (chapéu, máscara, peruca, vestidos longos e curtos, tiara, bolsa , sandália, cachimbo, coroa, violão, cesta de flores e frutos de plástico, etc.) e deixar que elas próprias inventem seus personagens.
          Será representado sobre um tapete grande ou pequeno palco, caso haja disponível.

                                                 Ficha do personagem
         
          Na ficha as crianças podem escrever:
nome do personagem
idade
onde mora
o que come
o que faz
de que é feito
          Se o teatro se propuser a representar personagens de uma história lida ou contada anteriormente, então dispensa-se a ficha pessoal.


                                                          Diálogos
          Para facilitar a elaboração dos diálogos, o orientador pode escrevê-los, enquanto as crianças inventam, procurando sempre dar sequência lógica à história. Depois reler alto o que ficou acertado e separar as falas de cada criança.
          Todas as etapas são importantes; não tenha pressa; só passe à etapa seguinte quando todos tiverem terminado.

                                                        Representação
          Faça uma única representação como culminância. Permita que modifiquem as falas, se quiserem e termine assim que sentir que as crianças estão cansadas.

                                             Apresentação para público
          Pode ocorrer que as crianças estejam muito empolgadas e queiram apresentar o teatrinho para os pais. Nesse caso, permitir somente que os  pais e pessoas muito próximas estejam presentes.
Não convidar público e jamais cobrar apresentação.


Alunos do Curso Normal da Escola Elisiário Matta (Maricá) preparam a Oficina da Palavra e Personagens para Teatro / 2014

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Exercícios de sensibilização e jogos de criatividade

          Antes de iniciar atividade artística com crianças, convém fazer um exercício de sensibilização  a fim de torná-las mais calmas, atentas e concentradas. Faça apenas um a cada dia; trabalhe em grupo  numa mesa grande ou faça uma roda sentada no chão.

1- Passeio imaginário.
          Peça que a crianças fechem os olhos, relaxem os braços sobre as pernas, respirem fundo e depois soltem a respiração. Calmamente, vá descrevendo um passeio imaginário que passa por florestas cheias de  passarinhos, campos floridos, montanhas, mar,  os sol, passeio de barco, etc.
Enriqueça os detalhes e imagine o som da natureza.

2-Percepção sonora:
          Reúna alguns objetos sonoros como molho de chaves, sinos, apitos, chocalhos, rádio de pilha, e  bata na mesa com os nós dos dedos, etc . Peça que uma criança feche os olhos e  em seguida identifique o som emitido pelo objeto. Repita com todas as crianças.

3-Percepção  táctil das formas:
          Reserve uma sacola com objetos pequeninos de materiais e formas diferentes: caixa de fósforo, isqueiro, chave, chaveiro,  borracha, pilha, relógio, bonecos super heróis, bichinhos de plástico, etc.
Peça que cada criança ( de olhos fechados) retire da sacola o objeto e o identifique.

4-Percepção olfativa e paladar:
          Reserve em papel alumínio ou tubos de plástico alguns temperos como cravo, canela, salsa, coentro, orégano, hortelã,  sal, açúcar, etc, ( exceto pimenta). Peça a cada uma das crianças que identifique cheiro e sabor.

5- Sensibilização para as cores:
          Recorte de revistas faixas retangulares de diferentes cores. Espalhe sobre a mesa e peça que cada criança escolha uma cor; em seguida ela deve dizer o porque da escolha, o que esta cor representa, o que significa, o que lembra para ela. Deixe que se expresse livremente.

6- Adivinhação: o que é ?
          Uma criança imagina alguma coisa que esteja guardada dentro de sua mão fechada. Então as outras crianças começam a fazer perguntas sobre o objeto, e ela deve responder sim ou não, até que alguém acerte o nome do objeto imaginário. Será sua vez de esconder outra coisa na mão.

7- Linguagem dos gestos: o que estou fazendo?
          Uma criança faz um gesto ( ex: coçar a cabeça, bater palmas, matar mosquito, tomar água,nadar, etc,) e as outras crianças devem adivinhar o que significa a mímica.

8-Percepção da Arte:
          Reserve uma pasta com fotografias de obras de arte recortadas de revistas e jornais. Espalhe sobre a mesa e peça que cada criança imagine estar numa galeria de arte e vai comprar uma obra. Dê 5 minutos para elas refletirem. Em seguida cada criança deve dizer porque escolheu aquela obra, o que ela percebe, o que pode ver.

9-Seleção de imagens naturalistas, percepção da luz.
          Reserve canudos de papelão e papéis celofane de várias cores. Cubra uma das extremidades do canudo com o papel; cole. Deixe alguns canudos sem papel.
          Saia com as crianças nos arredores e peça que cada uma descreva o que está vendo. Vá corrigindo a linguagem oral. Esse exercício é excelente também para memorizar formas e  para preparar atividades de desenho e pintura.


10- Percepção de texturas:
          Recorte em revistas pequenas superfícies em relevo de diferentes coisas ( ex:  pêlo de animal, a superfície do pneu, couro, neve, pano, areia, plástico, palha, etc) sem que seja visível a forma completa da figura,  e cole sobre cartões de fundo branco.
          Espalhe os cartões virados para baixo sobre a mesa e peça que cada criança escolha um cartão, e vire. Depois pergunte a cada uma: Se você  fosse assim, seria o que? Exemplos de respostas: um gato, um pneu, uma bolsa, um sapato, etc.

11-Fantasia e ficção:
          Peça à criança que imagine estar olhando pelo buraco da fechadura, e responda: onde ela está? O que está vendo?  Quem está lá dentro?  O que está fazendo? Aproveite para corrigir a linguagem oral. Embora este exercícios seja semelhante ao exercício de número 9, não é a mesma coisa. Nesse caso a criança imagina a fechadura e descreve o  que sua imaginação inventa, isto é, não se trata de observar uma cena real, mas de inventar uma história,  uma ficção, totalmente inexistente, que a criança vai inventando  na hora.


12- Esforço de imaginação continuado:
          Peça que as crianças imaginem uma escada. Em seguida pergunte a cada uma: para onde vai a escada? Deixe-a seguir a narrativa até que se sinta satisfeita.

          Muito importante que haja ambiente de confiança, de respeito pela narrativa do outro, alegria de criar juntos, cumplicidade, acolhimento, solidariedade, compreensão.


         




         
         

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Alfabeto Visual

          Pessoas compreendem as pinturas de diferentes maneiras: alguns percebem o conteúdo psíquico, outros a ideia racional, e outros conseguem ver a harmonia das formas, das cores, dos movimentos, e das relações entre eles.

Johannes Itten "The Encounter" 1916


          Quanto às crianças, sabe-se da ligação afetiva que têm com suas próprias pinturas e desenhos, mas não existem ainda estudos confiáveis acerca da percepção infantil em relação às obras de arte dos adultos. Por isso, pais e professores podem dar direções, fazer observações bem fundamentadas à medida que a criança cresce e torna-se mais observadora; mas não devem jamais impor suas próprias opiniões.
          Quando estiverem juntos diante de um quadro, deve-se dar bastante tempo para que a pintura haja sobre a criança. Em seguida, mostrar-lhe o nome do pintor, e a data em que o quadro foi pintado, para situá-lo no tempo.
          Quanto ao formato (grande ou pequeno) não tem a menor importância , não influi na qualidade da pintura, pois excelentes pintores usaram pequenos formatos.
          O suporte da obra, sim ( se é pintura sobre parede, sobre madeira, sobre tela, sobre a seda, etc) tem importância na medida que revela não só as técnicas disponíveis naquela época, mas a finalidade com que a pintura foi executada -- para um altar de igreja, um palácio, para ser transportada em navio a outro continente, para ser guardada em estojo e desenrolada em ocasiões especiais, etc.
          O tema figurativo ( paisagem, natureza morta, retrato, autoretrato, nu artístico etc.) é geralmente revelado no título da obra. Mas pinturas abstratas costumam pertencer a séries numeradas.
          Resumo a seguir alguns estudos do professor Johannes Itten  ( para adultos) que facilitam  compreensão das obras de arte:

1- Na linguagem das formas é necessário observar os movimentos: ponteagudos,  violentos em diagonais como os relâmpagos, suaves e ondulados como as águas dos rios, enovelados como molas, angulosos em verticais, horizontais e diagonais.

2- A unidade da obra distingue-se pela  semelhança de formas, de ritmos, de estruturas e nas combinações de cores.

3- A composição de um quadro é um problema de divisão de superfícies a serem preenchidas.

4- Zonas iluminadas ao lado de superfícies escuras são elaborações harmoniosas de contraste claro- escuro na composição de algumas obras.

5- A profundidade é percebida pelo posicionamento das figuras mais à frente ou mais ao fundo.

6- As linhas podem ser nítidas, bem traçadas, contornando as figuras, ou podem ser borradas, diluindo o limite entre a figura e o fundo, o que introduz sensações de suavidade.

7- Pinceladas podem ser leves, fluídas, ou carregadas de tinta, grossas, espessas, cheias de vigor.

8- As cores harmonizam-se por semelhança ou contraste.
          As cores puras (em tinta) são vermelho, amarelo e azul. Misturadas ao branco, tornam-se mais claras; ao preto tornam-se mais escuras. Misturadas entre si geram uma infinidade de combinações e nuances, até chegar ao marron acinzentado, anulando-se mutuamente.
          Cores quentes são aparentadas ao vermelho-amarelo-laranja; e cores frias ao verde-azul-violeta.
          Dourados e prateados são utilizados desde a Idade Média; cores metálicas e sintéticas desde o século XX.
Johannes Itten "Farbkreis"  1916


          Não fazer desse resumo regra imutável, pois é da natureza do artista criar, contrariar postulados. Antes ouvir a criança dizer como percebe esta ou aquela forma ou cor. Proceder com cautela e dar espaço livre à imaginação infantil.
          Evitar exposições de temas pornográficos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Olhar e ver

          Pais não precisam esperar que a escola de seus filhos organize excursões a lugares interessantes a fim de estimular a experiência sensível do mundo. Podem, eles mesmos, criar essas condições.
          Com antecedência, procurem  lojas (de tecidos, padaria, sapataria, serraria, loja de ferragens, de flores, de plástico, etc) e façam contato com os lojistas; perguntem se alguém pode explicar a origem dos produtos expostos, e suas  funções.

          No dia marcado, levem as crianças com bloco sem pauta para que possam fazer anotações e desenhos; permitam que peguem as ferramentas, observem as formas diferentes, sintam a textura dos tecidos, dos couros, dos sapatos, das madeiras, dos plásticos, etc... e desenhem o que acharem interessante, escrevam nomes e particularidades. Façam uma ou duas visitas de cada vez..
          No caso de visitas a museus, centros culturais e exposições de arte, preparem a visita informando-se da história do museu, da origem e das técnicas dos artistas em exposição; procurem despertar nas crianças o desejo de estar em contato direto com as obras.
          Atualmente os museus têm múltiplas funções, desde atividades educativas, venda de livros,, posters, camisetas, souvenirs, café, restaurantes, etc. Tudo é muito estimulante, e as crianças naturalmente expressam alegria nos espaços de interatividade.
          Mas, se você é responsável por um grupo, antes de adentrar o espaço exclusivo destinado à exposição, lembrar que desliguem os celulares, respeitem as faixas de distanciamento das obras, não toquem nas obras (a não ser  que tenham sido planejadas com esta finalidade),  falem baixo, não atravessem diante das pessoas  que estão admirando os quadros. Observar que esse espaço também recebe pesquisadores, especialistas, estudantes de arte que fazem cópias das obras, pessoas que foram ali para trabalharem concentradas. De modo que a comunicação do grupo pode ser feita em voz baixa, o professor pode até combinar alguns sinais quando quiser reunir a turma e fazer uma observação especial. Porém, não é adequado dar uma aula no espaço destinado à exposição.
          Que tudo seja visto em largo tempo, para ser bem assimilado.  O olhar abraça a imagem como um todo, depois discrimina detalhes. É um processo dinâmico, que repetido exercita a inteligência e desenvolve a criatividade.
          O importante é que o grupo mostre-se curioso, interessado, e que o professor demonstre prazer em responder às solicitações. No caso de se sentir inapto para tantas questões, recorrer à visita guiada, e usufruir também de conhecimentos técnicos mais aprofundados.
          O ideal é que a visita seja parte de um projeto concebido pela turma e  já em andamento. O resultado será um arquivo rico de temas e imagens que as crianças utilizarão nas atividades artísticas.
         
         
         

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Arte na Infância

          O momento em que a criança se dispõe a criar - quer se trate de um desenho, modelagem, colagem, quando e está dançando ou cantando -  é muito especial.
          Ela deve ser estimulada corretamente a fim de que sua sensibilidade desabroche com liberdade para que no futuro possa vir a ser um adulto criativo, pessoa capaz de encontrar soluções originais e inteligentes em suas profissões.
          A criança tem o direito de ser feliz.
          E  há práticas de pais, familiares, educadores , e até recreadores de shoppings que auxiliam, mas às vezes prejudicam muito o desenvolvimento das crianças.
          Os pais nunca devem deixar que seus filhos participem de concursos de desenhos e poesias. Isso é extremante prejudicial.
          A criança, quando faz o trabalho artístico, nele projeta o seu físico e também o espiritual. Ela dá o melhor de si. E o melhor não deve, não pode ser comparado em arte, cujos critérios estéticos variam em épocas e lugares diferentes, suscitam múltiplas interpretações.
         A atividade artística da criança deve ser sobretudo lúdica, que dê alegria e prazer na descoberta das formas, dos gestos, dos materiais em transformação. A própria atividade deve ser o objetivo e nunca, jamais, a competição, a comparação com os outros, a avaliação em termos de "bem feito" "mal feito".
         Nunca se deve "ajudar" a criança a desenhar, pegando na mão dela, e consertando aqui e ali o que nos parece estranho.  Isso é uma afronta à liberdade de criar.
         Nos primeiros três anos da infância a criança faz garatujas, e desenhando fala coisas que imagina e as representa graficamente , apesar dos adultos não reconhecerem no tracejado o que está sendo relatado.  De cinco a doze anos, ela já consegue dominar o processo, de modo que já se pode identificar esta ou aquela figura. É um período delicado, em que a criatividade aflora livremente, por isso requer cuidados.
         Não se deve dar modelos a serem copiados, desenhos prontos para colorir, temas fechados.Colorir o desenho feito por outra pessoa limita a criatividade; é como dizer:"faça assim, isso é bom, isso é bonito", não permitindo que a criança expresse sua personalidade em formação com a devida liberdade.
        Mas quando trabalharem livremente seus próprios desenhos e pinturas, ao final, pode-se elogiar o resultado dizendo assim: " que cores bonitas você conseguiu, esse azul ficou bom, não é?". Mas não devemos perguntar: " isto é uma casa? uma pessoa? um bicho? "... porque as proporções e as cores podem estar muito distantes e diferentes do que julga o adulto com sua experiência de observação. São imagens de fantasia conectadas com o mundo interno imaginário , estruturado de modo afetivo, e pertencentes apenas à própria criança. E se  por acaso você interpretou uma coisa por outra, ela pode ficar decepcionada e triste, e isso inibe outras tentativas.
         Auxiliar a criança a observar o mundo ao redor, as cores das folhas que passam do  verde  ao alaranjado e marrom no outono, o som da chuva nas vidraças, a textura dos muros envelhecidos e descascados, o reflexo da luz nas poças d´água, o entardecer, o cheiro dos alimentos, o barulho das máquinas, o canto dos pássaros,  as roupas coloridas no varal, nomear tudo, descobrir detalhes, é a melhor forma de encontrar beleza e enriquecer a experiência infantil.

        Sair fotografando a cidade, os parques, as praias com suas barracas coloridas, o movimento das pessoas nas ruas e  reunir as fotos em pastas no computador.



        Ler bastante para as crianças demonstrando prazer com as aventuras dos personagens, e procurar no dicionário o significado das palavras que elas não compreenderem.
        Aos treze anos o diálogo (curiosidade- observação- compreensão- aproveitamento) faz-se espontaneamente, e se o jovem demonstra real interesse em continuar atividades artísticas, pode ser encaminhado às  escolas específicas, que irão aprofundar o conhecimento técnico.
       Antes disso, é contraproducente impor quaisquer limitações.