domingo, 9 de dezembro de 2012

Criador e criatura

          Quando Marina Colasanti escreveu " Uma Ideia Toda Azul" -- história de um rei que na juventude teve uma linda ideia, mas guardou-a por receio e  para que fosse aproveitada quando ele  tivesse tempo. Mas os anos foram  passando, e o rei envelhecido acaba desistindo da ideia--,  sugeriu de forma simbólica e lírica problemas que envolvem a criação na arte.
          Problemas que surgem desde a concepção da ideia, e seguem com as questões: é uma boa ideia?..é uma ideia original?....tenho meios de concretizá-la?...como?...onde?...devo guardá-la só para mim?...que perigos corro em compartilhar a minha ideia?...São perguntas muito humanas das quais nem sempre o autor tem todas as respostas.  Necessita portanto de coragem* para desenvolver a esperança (em si mesmo e às vezes nos outros) de que pode dar certo, e de iniciativa para passar  imediatamente à ação.  Sem perder tempo, precisa aproveitar o entusiasmo.
          O receio de que sua ideia possa ser  copiada se justifica, mas não deve impedir a realização. Qualquer ideia é parte do Todo, faceta única e singular de um prisma formado por milhões de outras facetas, que se ajustam entre si.. As melhores criações da humanidade assentam-se sobre esforços de milhares de homens  generosos, que através de séculos deram suas contribuições, e cujas identidades hoje se perdem no anonimato da história.
          Nada permanece igual para sempre, tudo se transforma, só existe o eterno devir, a natureza que cria e  que evolui sem cessar. Uma ideia no espaço é fervedouro para muitas outras ideias. E é bom que assim seja.
          O resultado da criação, ou seja, a criatura, desde o parto não pertence mais à mãe. Está lançado seu destino, e sob diferentes olhares, será admirada, louvada, contestada, desprezada, esquecida, reconsiderada, lastimada, aceita e rejeitada, segundo as percepções e através dos tempos. Também pode ser retomada e modificada pelo próprio autor.
          Essas trajetórias podem transformar  profundamente o artista, e suas consequências fazem a alegria dos psicanalistas porque têm muito a descobrir e analisar, e o desespero dos estudantes de arte, porque através de indícios precisam traçar os rumos das disposições e identificar mudanças de estilo e fases.
          Quanto às crianças, acontece às vezes de uma criança ter ascendência sobre outra, que passa a copiá-la. É um período  muito delicado. O orientador precisa reforçar a autoestima da criança insegura: primeiro promover atividades com material diferenciado; só depois de algum tempo realizar desenho e pintura,  com as crianças separadas uma da outra. O problema não é a cópia, mas a insegurança. Elogiar os esforços da criança tímida.
         

* ler "A Coragem de Criar" de Rollo May, Editora Nova Fronteira.

Instalação

          A instalação é um trabalho de arte que leva em conta, utiliza e transforma o espaço em que é realizado. Pode ter significado simbólico ou não.
          Tunga faz a instalação " À luz de dois mundos", em que suspende sete caveiras de bronze numa espécie de estrutura equilibrada; e diz: "Essa peça é uma grande balança. É uma espécie de aparelho para absorver a contradição de um museu como o Louvre. Essa peça vê o museu como uma grande pilhagem". Há certo sentido de protesto.
          Ernesto Neto faz " Leviatã Thot" , instalação no Panthéon de Paris ( 2006). O monstro Leviatã é composto de malhas  (presas na cúpula e no teto) que tomam forma de corpo suspenso no espaço,  à medida que o peso das matérias inseridas nas malhas pendem para baixo. Thot, o deus egípcio escriba dos  deuses viria   para perturbar. Como o panteão é o lugar de descanso dos heróis franceses, a instalação tem grande  significado simbólico.
           Humberto e Fernando Campana constroem uma instalação com luminárias e esculturas de papelão ondulado; são tiras suspensas, unidas umas às outras que descem em cascatas e ondas até o chão. O jogo de luzes e sombras realça o relevo no espaço. Trabalham com sensações visuais e táteis, e não têm conotação simbólica.
          Richard Serra instala no museu Guggenheim de Bilbao "La Materia del Tempo" ( 1994-2005).A escultura de imensas placas verticais de metal permite que o público possa mover-se ao redor, explorar seu interior, e atravessá-la para descobrir caminhos, labirintos e  múltiplas perspectivas. Devido à evolução das formas, pode-se andar dentro de curvas, elipses e espirais, e ter a sensação de espaço em movimento.
          A vídeo- instalação explora problemas conceituais e estruturais relacionados com a imagem projetada no espaço. Fotografia, cinema e vídeos são os recursos usados para estabelecer a poética abordada em cada obra: imagens  duplicadas, construções fractais, linhas que nascem e desaparecem, presença e ausência de movimento, repertório formal oferecido pelas  mídias visuais.
         Um homem anda solitário pelas ruas da cidade, risca muros e paredes externas das casas, e pode ser tema de uma vídeo- instalação; outro homem foge sempre correndo sem que se saiba do que está fugindo, nem para onde ele vai; um jovem diante de uma parede foge de uma bolinha que é projetada em sua direção repetidas vezes; uma criança roda em círculos arrastando um saco pesado...são imagens reais em movimento repetido ou aleatório que remetem à solidão, ausência de significados nas ações,  instabilidade das grandes cidades.
          O artista da vídeo- instalação pode usar de outros recursos como projetar ondas do mar no chão e na parede, de forma a criar uma sincronia entre a proximidade do visitante e o afastamento das marés, de acordo com a estrutura automática do piso da instalação. Pode também criar falsas aberturas em paredes, construir estruturas acima ou abaixo do piso, interagir com imagens, cores, listras, sons, retratos,  textos gravados, etc. , a fim de movimentar emoções e instigar o observador.
          Mariko Mori, artista japonesa,  apresentou "Oneness" (2011) no CCBB, com vídeo- instalações de perfeita harmonia, beleza e sutilezas incomparáveis. Uniu o universo real e o simbólico, o conteúdo ancestral e a fantasia futurista. A exposição começa com a projeção da foto de  uma paisagem marítima  com ilhas paradisíacas e a praia  onde banhistas  estão ao lado de uma sereia. Prossegue com a performance em que a própria artista caracteriza-se como um ser espacial (extra-terrestre?) em que manipula uma bola de cristal que muda de cores e posições, expressão corporal de profundo mistério...



           A partir daí a exposição desdobra-se em imagens de sonhos onde a artista passa  por uma floresta com neblina, participa de  um ritual diante de uma cascata, manipula objetos instigantes.  Outra instalação permite que o público toque no coração de figuras  Termina com a  visita a uma nave espacial, onde o espectador tem experiências relativas a jogos visuais e sensoriais.
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          Crianças apreciam criar instalações e penetráveis desde o projeto até a execução em grupo. Primeiro o orientador deve estabelecer o espaço disponível: um corredor, uma varanda, o hall, o pátio, etc.  Em seguida acertar com as crianças o material que possuam em grande quantidade: sobras de uma gráfica, tiras plásticas, lã, cordas, retalhos , embalagens, vime, galhos retorcidos, etc. Em seguida discutir a forma que darão à instalação, se for suspensa, como  pendurar a estrutura, e mãos à obra. Possíveis significados poderão surgir  no decorrer do trabalho.

         

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Visita ao museu Casa do Pontal

          Quem desejar conhecer a vida e a cultura dos brasileiros encontrará no Rio de Janeiro, no Recreio, próximo às praias de Grumari, em lugar muito aprazível da reserva ecológica,  o museu que expõe  acervo de arte popular de excelente qualidade, reunido pelo colecionador Jacques Van de Beuque: é a Casa do Pontal.

          No primeiro piso está o artesanato em terracota da escola de Mestre Vitalino e o artesanato feito de entalhe em  madeira. Estão representadas profissões como dentista, médico, sapateiro, costureira, rendeira, etc. A seguir estão cenas da vida rural, grupos que aram a terra, outros ordenham as vacas,e  outros vendem os produtos da roça.

          O ciclo da vida reúne grupos que celebram casamentos, batizados e enterros. Festas populares em homenagem aos santos padroeiros e a dança do boi têm variadas interpretações, e pode-se até ver a fantasia de boi tamanho natural.
          Jogos e diversões de grande variedade: jogos infantis, jogo de cartas, futebol , circo e teatro.

          O carnaval apresenta-se  com as arquibancadas armadas e as escolas de samba, grupos fantasiados e música ambiente.
          Muito interessante e incomum é o artesanato que representa animais exóticos em cenas inusitadas, uns comendo os outros, e o macaco que ensina tabuada a outros bichos.
          O museu inclui uma sala reservada de arte erótica que recria piadas comuns e mitos sexuais.
          Na história do Brasil e do Cangaço, Lampião e Maria Bonita surgem fortes e valentes.
          No segundo piso estão o artesanato ligado às religiões, os orixás, os  santos católicos e os ex-votos em madeira, em agradecimento às  graças recebidas.
          Além de  terracota e madeira, outros materiais são utilizados pelos artesãos que fazem parte da mostra: coco, palha, pano, missangas, areia.
           Mas o que mais encanta são os grupos articulados que se movimentam (como a dupla de violeiros) e que fazem a visita valer a pena.

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Vanise Graça
vanisefeliz@yahoo.com.br
Uma artista plástica que se inspira em temas populares: brincadeiras de crianças, novenas, festas religiosas (cristãs)-  mundo maravilhoso, naif, delicado e mágico da infância e da fé.






sábado, 1 de dezembro de 2012

Arte efêmera

          O efêmero na arte liga-se a duas correntes de pensamento.
          Primeiro trata-se de um acontecimento fugaz ( interação, ação, performance feita no local) que contesta a perenidade do objeto artístico ( obra de arte feita para durar).
          A performance trabalha com metáforas, e tem um script ( uma elaboração). Ex: um grupo organiza-se dentro de um castelo para representar cenas relativas à Idade Média ( são  fatos históricos relativos aquele lugar). Outro grupo enche tonéis de água e sabão e lavam roupas na via pública - representam o povo limpando a nação da corrupção da classe política. Pilotos franceses desenham o rosto de Asterix em cores azul, branco e vermelho sobre o céu de Paris, etc....



          Já o happening não tem a priori, é o que acontecer na hora, a pessoa entende como quiser, não tem significado específico. Ex: um artista carrega nas costas uma macaca empalhada de biquíni vermelho e cocar indígena; ele dança com a macaca, brinca com ela, e começa a bater na cara da macaca; em seguida um outro artista pega uma maca, ambos deitam a macaca na maca, abrem a barriga, e começam a tirar coisas inusitadas de dentro; as pessoas olham e se surpreendem, uns riem,  outros protestam, cada um reage de uma maneira, participam e atuam junto com a dupla, e tudo vai sendo filmado; fotos e vídeos são os registros do happening. Neste caso há uma teatralização do corpo, que se propõe a  desestabilizar, surpreender, confundir mesmo...

          Quando o artista pinta o corpo de um modelo ou o seu próprio corpo para efeito de fazer nascer imagens surpreendentes na superfície da pele, também está realizando arte de curta duração.
          A segunda corrente liga-se à observação dos ciclos naturais onde reinam o efêmero, o transitório, onde tudo é submetido à degradação, que também é metamorfose. Ex: na primavera, um artista preenche o espaço entre dois grandes vidros com flores; as estações se sucedem, ele fotografa as variações de cores pelas quais passam as flores a fenecer. Outro artista preenche com sacos cheios de grãos de feijão um caixote de madeira, formando uma casa vegetal; os grãos nascem, crescem, a obra é transitória. Cristina Oiticica permite que suas pinturas fiquem expostas ao tempo, sofrendo assim transformações:
          Outras criações como escultura na areia, arranjos florais, riscos traçados  por trenós sobre a neve, sulcos profundos desenhados sobre a terra,  desenhos de fumaça duplicados simetricamente no computador, objetos que  ficam expostos ao tempo para degradação, todos têm parentesco com a arte efêmera, porque são elaborações conceituais de curta duração física. 
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          As crianças apreciam muito este tipo de atividade artística. Desenham ( sem colar) com diferentes grãos de arroz, feijão, milho , sementes, missangas, etc.; desenham com areia, com pó de café, serragem colorida, cascalho de aquário e bolinhas de papel sobre as  mesas cobertas de papel de cor neutra. Desenham com giz as sombras das outras crianças no chão, as sombras das árvores nos muros. Criam fantasias de papel  como os parangolés de Hélio Oiticica, e vivenciam suas criações com intensidade. No final destroem tudo e se sentem muito bem.



          São atividades que libertam de condicionamentos e tornam as crianças muito felizes.
Mas é preferível que façam parte de um grande projeto de tema aberto. Registros em filmes e fotos servem para exposição.
         

Bom, bonito e barato

          A instituição ( grupo, escola, orfanato...) que permite aos seus assistidos  trabalharem com arte na infância e na adolescência pode preparar-se de modo simples e eficaz: reserve um sala ou espaço coberto junto a um tanque ou banheiros; compre 4 mesas grandes ou reúna mesas pequenas no centro da sala, e cubra com plástico grosso; estantes ou armários para guardar os trabalhos; compre todo o material necessário, e reponha sempre que precisar; as turmas podem usar o mesmo material, mas é necessário estabelecer um dia na semana para cada turma (não mais  de 20 alunos); um professor deve ficar responsável pelas atividades, e cuidar para que os alunos criem bons hábitos de manterem a sala limpa após cada atividade, lavando e enxugando os pincéis. É conveniente pedir  às  crianças que usem roupas velhas, para que não ocorra de estragarem as novas. O uso do avental pode inibir os movimentos das crianças.
          Material necessário:
1- Cola plástica branca, tesouras.
2- Lápis , borracha, lápis cêra.
3-Revistas usadas e jornais.
4-Pincéis pêlo de marta de diferentes tamanhos
5-Papéis de gramatura variada: papel glacê, papel couchê branco, papel manteiga, papel 40 kg, papel sulfite(ofício), papel canson, cartolinas de cores variadas, papel camurça de cores variadas, papel reciclado, papel celofane, papel pardo e papelão que pode aproveitado de caixas de papelão descartadas.
5- Varetas de churrasco
6-Sucata de copos de iogurte para colocar as tintas em porções individuais
7-Sucata de todo tipo de material: caixas de remédios, embalagens, conchas, missangas, barbante, lã, cascalho, serragem, bijouteiras, miudezas em geral, galhos ressequidos, etc.
8- Panos velhos e potes de água para limpeza
9-Tinta ecoline ou faça tinta de anilina assim:
Em latas de leite em pó vazias, misture a mesma quantidade de água e alcool, acrescente o pó da anilina.
10-Tinta guache ou faça tinta plástica assim:
Divida uma lata grande de tinta Suvinil em latas de leite vazias menores; acrescente a mesma quantidade de cola plástica branca ; para cada lata misturar corante xadrez líquido ou em pó em  cores diferentes.
11- Tinta para tecidos , se estiver de acordo com o projeto desenvolvido.
12- Canetinhas hidrocor.
          Faça pastas de cartolina para guardar os trabalhos; assim os alunos vão monitorando  o próprio progresso.
          Carvão, giz pastel e  aquarela também são apropriados para trabalhar com crianças, mas costumam ser mais caros; a tinta a óleo não é apropriada pela dificuldade de ser removida.
          Ótimas atividades são: a modelagem em cerâmica e o mosaico, mas precisam material específico, espaço adequado e forno próprio.
          O uso adequado dos papéis:
  • papel glacê: por sua textura acetinada serve para recorte e colagem, dobraduras, faixas de contorno para painéis.
  • papel couchê branco: por sua textura acetinada e por ser grosso, serve para  contruir relevos de figuras recortadas e abauladas com tesoura; bom para desenho a nanquim.
  • papel manteiga: para tirar riscos, para repetir o mesmo motivo em diferentes posições, para efeito de transparência, para relevo amassado.
  • papel 40 kg: ideal para pintura a guache ou tinta plástica; o papel pode ser dividido em diferentes formatos ( quadrados, retângulos, trapézios, cículos, ovais) e diferentes tamanhos, porque isso multiplica as possibilidades da criança fazer diferentes organizações de estrutura de de desenho.
  • papel ofício: serve para rascunho e para armazenar idéias de desenhos para uso posterior.
  • papel canson: por absorver bem a tinta, serve para ecoline, guache, anilina, aquarela.
  • cartolina: o mesmo uso do´papel 40 kg e para pastas pessoais de trabalhos dos alunos, para cartazes.
  • papel camurça: por sua textura aveludada, serve para ilustrações, para forrar caixas, para dar destaque a figuras especiais.
  • papel reciclado: o mesmo uso do papel 40 kg, e para recorte e colagem.
  • papel celofane: por sua transparência serve para fazer vitrais em conjunto com a cartolina preta, serve para monóculos de observação, relevos amassados e colados, para teatro de sombras.
  • papel pardo: serve para cobrir  as mesas quando fizer arte efêmera com miudezas e grãos ( não use cola).
  • papelão aproveitado de caixas: serve para pintura, para fazer um gráfico de escala com as tonalidades das cores, para maquetes, para divisão espacial em instalações.
  • papéis dourado e prateado servem  para fazer acessórios como coroa, cetro, espada, cauda de sereia, etc. em teatrinho.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fotografia

          Algumas pessoas têm dificuldade em distinguir a fotografia comum da fotografia obra de arte. De fato, não é tão simples de fazê-lo.
          No  princípio a fotografia visava coroar com êxito a busca que os artistas empreendiam há 4 séculos da imitação da natureza. 
          Com o tempo, o domínio da técnica fotográfica e os recursos disponíveis criaram condições aos fotógrafos de realizarem fotos de grande beleza e poesia. Um pôr-de-sol peculiar, uma montanha coberta de neve resplandescente,  uma floresta com neblina  produzem muita emoção,  e podem ser  considerados "sublimes".
          Se de  repente, as nuvens baixas deixam o Cristo  Redentor pairando solene sobre elas...

         Uma pomba pousa sobre a cabeça de um monge budista...uma garça pousa sobre uma pedra exatamente na direção da flecha que pretende arremessar a escultura de bronze do pequeno índio...

         As sombras desenham formas inusitadas na parede... são ocasiões inesperadas que o observador  experiente aproveita para tirar boas fotos , com os recursos técnicos adequados. Nesses casos as fotos tornam-se obras de arte.
          Já o retrato requer especial sensibilidade quanto ao alvo, isto é, o fotógrafo precisa captar exatamente e com naturalidade a essência de quem aquela pessoa é, sua "aura" particular ( um escritor, uma atriz, um cientista, etc.). A foto é de natureza icônica ( tem semelhança com o retratado), e a arte é de natureza da ilusão, brinca com a fantasia. Quer dizer que um retrato passa a ser uma obra de arte quando faz o espectador sonhar. Félix Nadar foi o melhor retratista de Paris no início do séc. XX.

          No Brasil, na mesma época, Marc Ferrez fez retratos étnicos tão bons que eram vendidos a turistas como "exóticos", fotografias panorâmicas de alta qualidade técnica, além dos novos edifícios da Avenida Central.
          Recursos diversos podem ser empregados para fotos artísticas: retratar uma bailarina com luz baixa, imagem ligeiramente desfocada e atitude solene pode gerar imagem de expressiva   beleza; e o mesmo recurso de fluidez pode ser usado  para fotografar lingerie, com o fim de gerar delicadeza na imagem; mas  o resultado  não será uma obra de arte, será uma  boa foto de moda. A diferença é a criatividade, a imaginação, a poesia.
         .Ainda no âmbito da beleza, pode-se encontrar  um fotógrafo que, inspirando-se numa pintura famosa, resolva recriar os personagens retratados em atmosfera similar, usando pessoas semelhantes às da pintura,  e aí teremos uma obra de arte ( porque usou a criatividade) se o resultado for bom.Ex: pintura "Almoço na relva" de Edouard Manet (1863).
          O fotógrafo que produz a si mesmo ou a outros em ambientes peculiares, roupas, acessórios, maquilagem, luz indireta e  estranhos adereços ( tatoo, punk, fantasias inusitadas) pode realizar boas obras de arte, mas então encontra-se na estética contemporânea, que imerge nas ambiguidades poéticas. Igualmente quem fotografa uma mulher como homem e vice-versa; e  produções de body-art que se mesclam ao ambiente, paredes e  muros.
          Um artista plástico que emprega pessoas, recursos técnicos, objetos ocasionais para produzir arte efêmera e land art, pode utlizar a fotografia como registro de seu trabalho, e então suas fotos fazem parte da obra.
          De acordo com o pensamento contemporâneo, que considera a beleza da arte independente da beleza do modelo, encontra-se a poética de âmbito  social, que pode ter como alvo operários sujos de petróleo, pobres abandonados nas grandes cidades,camponeses, loucos e idosos. São fotos que conduzem à reflexão, e quando bem produzidas demonstram grande  sensibilidade ( Sebastião Salgado).
          Alfred Stieglitz foi o fotógrafo que mais lutou ( em 1905) para que a fotografia fosse reconhecida como obra de arte.
           Atualmente a  fotografia tem sido considerada a arte da confusão ( no bom sentido - mistura heterogênea). Com a ajuda do photoshop, elementos podem ser retirados ou introduzidos nas imagens com finalidades diversas. Isso é invenção, renovação da imagem,  criatividade, mas às vezes induz   a erros de apreciação e manipulação das massas, com resultados imprevisíveis.
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          Por tudo isso os pais precisam estar atentos às imagens que circulam na mídia, conversar com os filhos, tentar compreender juntos as mensagens  visuais recebidas,   a fim de reduzir o impacto que possam exercer sobre eles.
         O uso da máquina fotográfica pelas crianças é muito bom, e quanto mais cedo aprenderem a lidar, melhor.O filme La Camara Oscura de Maria Vitoria Menis mostra com muita poesia como funciona a projeção da imagem invertida na câmara fotográfica.


PS: o programa Caçadores da Alma da TV Brasil do dia 5/12/2012 abordou  o tema com propriedade. Muito bom.

sábado, 24 de novembro de 2012

Pintor da terra, pintor do céu.

          É preciso um olhar atento para descobrir num modesto santuário de subúrbio (N.S. da Conceição do Engenho Novo) um conjunto das melhores obras de arte do estado do Rio de Janeiro.
          São dez pinturas a óleo de autoria do pintor Mário Mendonça, a conhecida Via Sacra da Fraternidade ( 1967-1970), que têm como tema a paixão de Cristo, e  foi assim chamada porque aborda questões como a solidariedade entre os povos, a caridade, e protesta contra a guerra-fria, o racismo e a ganância, a atuação do clero, e  reafirma o papel de Cristo como Salvador.
          De representação figurativa e geométrica, com tendência à abstração, a via sacra possui cores de tons ocres, marrons, alaranjados, amarelos, vermelhos matizados com púrpura, que contrastam com verdes e azuis profundos, e o branco como mediador. Fazem uma belíssima combinação cálida e solene.
www.mariomendonca.com.br

          Delicada homenagem de um Mestre a outro:
ANTES
SERRAS               SOMBRAS                 REFLEXOS
JESUS                                TIRADENTES
MARIO FÉ                        PAZ                           HARMONIA
SOLENE                               GRAVE                      VOA
AGORA
SERRAS           CAMPOS                         JESUS                   ALEGRIA
NOUVELLE                           FAUVE                    GENTIL           
MARIO FÈ                         VOA
VEIO
LUZ                            COR
INVENTIONE                      ASCENDE

Poema de Aluísio Carvão dedicado a  Mario Mendonça (1997).
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          As crianças podem apreciar suas ilustrações no livro Dom Quixote Para Crianças  ( uma história de Miguel de Cervantes Saavedra, com adaptação de Arnaldo Niskier, 2007).


Sugestões para atividades artísticas:
  • pesquisar sobre fraternidade, união, solidariedade, liberdade, justiça, Dom Quixote.
  • pintura a guache.
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       Em 2002 escrevi a monografia "Assim na Terra como no Céu: o universo Político / Simbólico de Mario Mendonça na Via Sacra da Fraternidade", monografia do curso de Especialização em Teoria da Arte, que pode ser consultada na Biblioteca da UERJ
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