Parece que a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente vai dar um basta na propaganda abusiva direcionada ao público infantil, que tantos danos tem causado às famílias, devido à impossibilidade de frear a ânsia de consumo a que a televisão induz incessantemente.
Em entrevista concedida a Vitor Fraga, na revista "Tribuna do Advogado" maio 2014, Ana Paula Bragaglia fala sobre a percepção infantil: (...) " Embora haja exceções, até quatro ou cinco anos geralmente não se reconhece a diferença entre a publicidade, um produto de ficção e outro ligado à realidade, como o jornalismo. E mesmo após aprenderem a diferença, crianças não têm uma capacidade crítica muito aguçada para frear seus desejos de consumo".
E Pedro Hartung sobre a nova resolução: (...) "É preciso respeitar o público infantil especialmente nas relações de consumo. Ninguém é contra a publicidade, ela não irá acabar. Apenas será feita de outra forma, redirecionada ao público maior de 12 anos, ou aos pais, que são os verdadeiros responsáveis por fazer a mediação dessa relação tão complexa que é a de consumo. Não é um pedido justo, é um pedido ético, e agora também uma determinação por meio da resolução".
Vale a pena entrar nesse site para ter acesso ao videio que explica todo o processo de criatividade do artista plástico Euro S. R. na execução dos Palimpsestos, assim como suas obras.
Deixe o centro de Recife para trás, pegue uma estrada sinuosa em meio a densa vegetação, desbrave cantos e recantos, ponha todos os sentidos alertas, pois no final da estrada o espera uma grata surpresa.
São sentinelas a postos ou arautos do mistério esses guardiães que nos dão as boas vindas?..
.Propriedade protegida pelo gradil-símbolo do caçador das florestas, dirige solene o arco armado e a flecha certeira para o céu.
Dentro da oficina Brennand, a fábrica dinâmica fervilha de trabalhadores: oleiros, ajudantes, aprendizes, jardineiros, projetistas, equipe de conservação. Em torno, o desdobramento dos jardins que se encaixam uns dentro dos outros.
Ao lado da oficina, nos altos muros do templo-castelo, pássaros imóveis parecem suster o tempo, enquanto cisnes vivos passeiam sobre o piso cerâmico de modelos variados.
No altar da vida, o ovo da procriação reina majestoso entre deuses polimorfos que cantam no silêncio da matéria.
De onde vem tanta inspiração? - pergunta-se. Melhor abrir a porta transparente para encontrar a resposta. Quem são essas mulheres sensuais que brincam de esconde-esconde com o espectador, fugidias e à meia luz? Não consigo vê-las por completo, e sinto que algo mais grave, profundo, sub-reptício move-se nesse lugar... A menina estende-se provocativamente no sofá; a estudante cruza as pernas enquanto eleva os braços com languidez; alguém corre pelo beco da cidade; um cavalheiro resmunga ao ouvido da mulher; a noiva olha o espectador com enfado; as viúvas não revelam segredos, mas têm olhos duros e tristes; a história passada, presente, o registro das histórias. Em seus desenhos e pinturas Brennand observa sem ser visto, e respeita a integridade do corpo da mulher. As cores são naturais ou intensas, as combinações fazem-se pelos temas, e são tramas sutis.
O recorte exterior que se vê ( ou se adivinha) entre pinturas - sob o olhar másculo de Brennand- não se encontra em suas esculturas.
No galpão reservado às figuras em terracota, o mundo perde os parâmetros do real. Uma orgia de formas parece emergir do subconsciente de todos nós. Ali vivem seres mitológicos, heróis e perdedores, cavaleiros-andantes e animais que são gente ao mesmo tempo. É a vida e a morte que florescem em todas as suas possibilidades.
É a intimidade posta a nu. São as aflições das castelãs, são os desejos não realizados, são as distorções. Olhares arregalados, olhares dúbios, olhares fugidios, mulheres sem olhos... Gente máquina, gente cachorro, flores-gente...
Dois pescoços longos com bicos de patos enroscam-se amorosamente; um falo cai sobre uma bacia; um seio encontra uma coxa; os vermes proliferam na cabeça da serpente; um ovo se quebra; uma cabeça esfacelada; algo ( ou alguém) se sustenta sobre um pedestal insólito; o robot vermelho arrasta o corpo desajeitado; o crânio de um extraterrestre conversa com o de um soldado, que responde do interior do elmo entreaberto; uma cabeça dobra-se perigosamente sobre a nuca e expele veias intumescidas; o ventre guarda um ser que ainda não tem forma definida; o cardume passa alegre sobre o painel; as flores têm olhos salientes; os frades vigiam sob o capuz; tudo vive, tudo se transforma na dança psicodélica da mente efervescente e propícia.
Os poemas gravados nas paredes são registros dessa magnífica arte de rasgar o véu das aparências e mergulhar no poço dos sonhos, vagando incerto em terras do sem fim...
O antigo Jardim Botânico do bairro da Luz, na capital paulista, foi transformado em parque no final do séc. XIX. Além de oferecer ao visitante um espaço de área verde muito agradável e bem cuidado, permite descobrir a cada contorno do jardim excelentes obras de arte modernas e contemporâneas.
Os modernistas estão representados nas obras de Victor Brecheret e Lasar Segall. De Brecheret tem-se "Carregadora de Perfume" (1923/24). Escultura em bronze de figura feminina ereta, o braço esquerdo dobrado sobre o ventre sustenta o braço direito, que erguido, sustenta o frasco de perfume apoiado sobre o ombro; o rosto volta-se para a esquerda. Obra de linhas suaves, tem influência de Maillol.
De Lasar Segall são "TrêsJovens" (1939): um grupo de moças unidas num só bloco, com igual influência dos modernistas de Paris.
De inspiração mais contemporânea destaca-se "Fita" de Franz Weissmann (1985): escultura em aço pintado, que reproduz a imagem de uma fita vermelha dobrada sobre si mesma, em escala de grandes dimensões.
"Espaço-vibração" (2000) de Yutaka Toyota é uma lâmina de aço e concreto, retorcida e enrolada. As duas obras dialogam entre si, uma com linhas retas e a outra com curvas sinuosas.
Já a escultura em mármore "Encontro e Desencontro" (2002) de Arcangelo Ianelli propõe na mesma obra um diálogo poético de formas sensuais, estabelecido entre as linhas retas e as linhas curvas opostas.
"Pincelada Tridimensional" (2000) de Marcello Nitsche projeta no espaço aquela mancha casual de forma imprecisa que às vezes ocorre na prática do fazer da obra, capturada pelo olhar sensível do artista. É uma estrutura de ferro, perfurada, e pintada em dégradée azul claro e índigo.
Nuno Ramos propõe uma reflexão sobre o meio ambiente com a escultura "Craca" (1995). Trata-se de uma estrutura em alumínio que se eleva do chão como uma onda em fluxo de projeção. No interior estão fixados em tamanho natural detritos do leito de um rio, talvez mar cheio de impurezas, estrela-do-mar, conchas, entulhos, pedras, ossos, caranguejos e pássaros mortos.
Lygia Reinach em "Colar" (2000) enriquece com sua obra a natureza deslumbrante do parque: construiu um colar de imensas contas cerâmicas, cujas superfícies possuem ranhuras diferentes, tracejados gráficos, signos e símbolos enigmáticos; o colar pende das árvores sobre o tapete verde da grama do jardim.
"Sem Título" (2001) de Macaparana dialoga com o espaço, a paisagem do entorno. Trata-se de uma estrutura em aço pintado na forma da moldura de uma grande janela aberta, por onde pode-se apreciar um requintado panorama.
O parque ainda possui outras obras significativas.
Tudo isso bem guardado pelo braço heroico de Giuseppe Garibaldi, cujo olhar estende-se do alto do busto erguido em sua homenagem.
E se a pessoa quiser alongar o passeio, pode aproveitar para almoçar ou tomar café no restaurante da Pinacoteca de São Paulo, conhecer o Museu da Língua Portuguesa em frente, ou andar até a Museu de Arte Sacra. Tudo bem conservado, com guias bem treinados, o que coloca o Estado de São Paulo entre os que melhor preservam o patrimônio cultural do Brasil. Parabéns. Vale a pena conhecer.
A arte oriental ( na China e no Japão), que evoluiu ligada à religião e à meditação, deu preferência a temas de paisagens, brumas e nuvens, cenas búdicas, caligrafia, em seguida flores e plantas, belas mulheres e bichos em último lugar.
Em países árabes, por influência da religião muçulmana, a arte inspirou-se na percepção do infinito ( o menor dentro do maior desdobra-se para alcançar a beleza absoluta). Padrões geométricos, filigranas, tessituras, arabescos, ramagens e a caligrafia foram desenvolvidos em profusão e a arte islâmica recusou a representação do corpo despido.
Na arte ocidental os antigos gregos buscaram a representação do corpo através da observação direta do real: o escorço no desenho dos membros, as texturas dos pelos e da derme, o volume dos músculos e a expressão corporal. Suas pinturas e esculturas representavam deuses, semi-deuses, ninfas e heróis.
Durante a Idade Média o dogma cristão impedia a representação do nu, com exceção do corpo de Cristo semidespido na cruz e coberto de chagas, e Adão e Eva no paraíso.
O Renascimento (séc. XV) renovou o gosto pelo estudo da anatomia, e a partir daí pintores e escultores renascentistas modelaram tanto os santos católicos como os deuses pagãos. Em 1538 Ticiano pintou "Vênus de Urbino":
A expansão e influência da cultura grega por toda Europa (difundida pelos romanos conquistadores) aprofundaram a experiência e regulamentaram a arte acadêmica, com base na beleza idealizada.
Até o final do século XIX, na Europa, o corpo nu de deuses e deusas pagãos eram vistos com naturalidade. No entanto, as primeiras representações realistas do corpo feminino - como a pintura de Edouard Manet "Olímpia" (1863), que retrata uma prostituta cujo olhar direto foi considerado insolente e vulgar - foram menosprezadas pelo público.
Na sequência do realismo (séc. XX), e misturando a ficção , o íntimo e o profano encontra-se a arte de Pierre Klossowski com seus "Tabeaux Vivants".
No Brasil, no séc. XIX, o ensino artístico seguia os modelos europeus, cuja representação do nu estava ligada ao ideal clássico. A evolução para o Romantismo permitiu a introdução de figuras indígenas na literatura e na pintura -- como "Moema" (1863) de Vitor Meireles.
Os silvícolas já tinham sido retratados anteriormente por pintores viajantes como Albert Eckhout e Debret. A pintura corporal dos silvícolas, feita com urucum, jenipapo e calcário, servia de enfeite ou fazia parte de ritual, sendo retirada e substituída tão logo cumpria sua finalidade. Povos africanos provenientes do Congo e Moçambique também portavam pinturas corporais, algumas com escarnificação.
Hoje vê-se um retorno da pintura corporal, na difusão de tatuagens ( permanentes), num esforço para identificação, nomeação ou adição estética. No atual mundo incerto e massificado, essa moda reflete a ânsia do brasileiro de perceber-se único, mas apegado a signos, emblemas, ornamentos que o defina e oriente, muitas vezes de inspiração tribal.
Na arte contemporânea ( laica) o corpo é "um campo de batalhas", suporte ou meio de expressão artística, trabalhado ora na superfície com múltiplas performances, ora no interior, polo de integração e desintegração formal.
Lia Chaia desenha o corpo com uma caneta: a caneta circula sobre a pele, faz espécie de ritual de reconhecimento, como uma brincadeira de criança; repete os movimentos até o fim da carga da caneta.
Ana Maria Maiolino desperta a memória corporal, engole um longo fio, e a imagem do vídeo resultante se desdobra no tempo, repete-se infinitamente.
Nazareth Pacheco aborda o lado estético das práticas de manipulação do corpo para tratamento de pele, de cabelo, lipoaspiração, implante cirúrgico, etc. Apresenta objetos cortantes e de perfuração que remetem ao medo e à repulsa.
Victor Arruda pinta o corpo todo estraçalhado, despedaçado como referência de perda e de violência sofrida.
Cristina Salgado insere feminilidade às esculturas de imagens díspares do corpo, como dedos muito longos que indicam uma direção, e formas inusitadas que se unem de modo surpreendente.
Outra abordagem parece incrementar o embate: é o interesse pelos mortos-vivos, zumbis e vampiros no cinema, teatro, performances, e expressões afins. Até o filósofo David Chalmers acredita que os zumbis são fisicamente possíveis...Mas, se ao rei absolutista cabia a decisão de deixar viver ou fazer morrer, hoje cabe aos cientistas a decisão de fazer viver (inseminação artificial) ou deixar morrer( eutanásia). Transformação inquietante e problemática que engendra a obsessão pelo corpo dos ressuscitados , daqueles aos quais o direito ( de vida e morte) não se aplica mais.
Direção mórbida e irreverente, coloca a arte no limite entre a fascinação e a repulsa, a violência e a complacência com a desintegração física. Demanda ao artista muita criatividade na elaboração de personagens, mas para o público levanta sérios questionamentos relativos à recepção da imagem. Que consequências psicológicas trará para o espectador o assédio de tantas imagens violentas e deprimentes? O futuro dirá, e poderá constar da exaltação do insólito, do avanço das doenças psicossomáticas, ou do inesperado retorno ao sagrado, ao desejo de união entre o corpo e a alma em busca da perfeição, da harmonia, da beleza , da paz, da integridade e da compaixão. "A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente".- disse Aristóteles.