sexta-feira, 28 de junho de 2013

Visita ao Parque da Luz (SP)

          O antigo Jardim Botânico do bairro da Luz, na capital paulista, foi transformado em parque no final do séc. XIX. Além de oferecer ao visitante um espaço de área verde muito agradável e bem cuidado, permite descobrir a cada contorno do jardim excelentes obras de arte modernas e contemporâneas.
          Os modernistas estão representados nas obras de Victor Brecheret e Lasar Segall. De Brecheret tem-se "Carregadora de Perfume" (1923/24). Escultura em bronze de figura feminina ereta, o braço esquerdo  dobrado sobre o ventre sustenta o braço direito, que erguido, sustenta o frasco de perfume apoiado sobre o ombro; o rosto volta-se para a esquerda. Obra de linhas suaves, tem influência de Maillol.
         De Lasar Segall são "Três Jovens" (1939): um grupo de moças unidas num só bloco, com igual influência dos modernistas de Paris.
          De inspiração mais contemporânea destaca-se "Fita" de Franz Weissmann (1985): escultura em aço pintado, que reproduz a imagem de uma fita vermelha dobrada sobre si mesma, em escala de grandes dimensões.

          "Espaço-vibração" (2000) de Yutaka Toyota é uma lâmina de aço e concreto, retorcida e enrolada. As duas obras dialogam entre si, uma com linhas retas e a outra com curvas sinuosas.

          Já a escultura em mármore "Encontro e Desencontro" (2002) de Arcangelo Ianelli propõe na mesma obra um diálogo poético de formas sensuais, estabelecido entre as linhas retas e as linhas curvas opostas.

          "Pincelada Tridimensional" (2000) de Marcello Nitsche projeta no espaço aquela mancha casual de forma imprecisa que às vezes ocorre na prática do fazer da obra, capturada pelo olhar sensível do artista. É uma estrutura de ferro, perfurada, e pintada em dégradée azul claro e índigo.
          Nuno Ramos propõe uma reflexão sobre o meio ambiente com a escultura "Craca" (1995). Trata-se de uma estrutura em alumínio que se eleva do chão como uma onda em fluxo de projeção. No interior estão fixados em tamanho natural detritos do leito de um rio, talvez mar cheio de impurezas, estrela-do-mar, conchas, entulhos, pedras, ossos, caranguejos e pássaros mortos.

          Lygia Reinach em "Colar" (2000) enriquece com sua obra a natureza deslumbrante do parque: construiu um colar de imensas contas cerâmicas, cujas superfícies possuem  ranhuras diferentes, tracejados gráficos, signos e símbolos enigmáticos; o colar pende das árvores sobre o tapete verde da grama do jardim.
          "Sem Título" (2001) de Macaparana dialoga com o espaço, a paisagem do entorno. Trata-se de uma estrutura em aço pintado na forma da moldura de uma grande janela aberta, por onde pode-se apreciar um  requintado panorama.

          O parque ainda possui outras obras significativas.
          Tudo isso bem guardado pelo braço heroico de Giuseppe Garibaldi, cujo olhar estende-se do alto do busto erguido em sua  homenagem.
         E se a pessoa quiser alongar  o passeio, pode aproveitar para almoçar ou tomar café no restaurante da Pinacoteca de São Paulo, conhecer o Museu da Língua Portuguesa em frente, ou andar até a Museu de Arte Sacra. Tudo bem conservado, com guias bem treinados, o que coloca o Estado de São Paulo entre os que melhor preservam o patrimônio cultural do Brasil. Parabéns. Vale a pena conhecer.


terça-feira, 14 de maio de 2013

O Corpo Nu

          A arte oriental ( na China e no Japão), que evoluiu ligada à religião e à meditação, deu preferência a temas de paisagens, brumas e nuvens, cenas búdicas, caligrafia, em seguida flores e plantas, belas mulheres e bichos em último lugar.
          Em países árabes, por influência da religião muçulmana, a arte inspirou-se na percepção do infinito ( o menor dentro do maior desdobra-se para alcançar a beleza absoluta). Padrões geométricos, filigranas, tessituras, arabescos, ramagens e a caligrafia foram desenvolvidos em profusão e a arte islâmica recusou a representação do corpo despido.
          Na arte ocidental os antigos gregos buscaram a representação do corpo através da observação direta do real: o escorço no desenho dos membros, as texturas dos pelos e da derme, o volume dos músculos e a expressão corporal. Suas pinturas e esculturas representavam deuses, semi-deuses, ninfas e heróis.

          Durante a Idade Média  o dogma cristão impedia a representação do nu, com exceção do corpo de Cristo semidespido na cruz e coberto de chagas, e Adão e Eva no paraíso.



         O Renascimento (séc. XV) renovou o gosto pelo estudo da anatomia, e a partir daí   pintores e escultores renascentistas modelaram tanto os santos católicos como os  deuses pagãos. Em 1538 Ticiano pintou "Vênus de Urbino":
         A expansão e influência da cultura grega por toda Europa (difundida pelos romanos conquistadores) aprofundaram  a experiência e regulamentaram  a arte acadêmica, com base  na beleza idealizada.
          Até o final do século XIX, na Europa,  o corpo nu de deuses e deusas pagãos eram vistos  com naturalidade. No entanto,  as primeiras representações realistas do corpo feminino - como a pintura de Edouard Manet "Olímpia" (1863), que retrata uma prostituta cujo olhar direto foi considerado insolente e vulgar -  foram menosprezadas pelo público.


 Na sequência do realismo (séc. XX), e  misturando  a ficção , o íntimo e o profano encontra-se a arte  de Pierre Klossowski com seus "Tabeaux Vivants".

          No Brasil, no séc. XIX, o ensino artístico seguia os modelos europeus, cuja representação do nu estava ligada ao ideal clássico. A evolução para o Romantismo permitiu a introdução de figuras indígenas na literatura e na pintura -- como  "Moema" (1863) de Vitor Meireles.

          Os silvícolas já tinham  sido retratados anteriormente por pintores viajantes como Albert Eckhout e Debret. A pintura corporal dos silvícolas, feita com urucum, jenipapo e calcário, servia de enfeite ou fazia parte de ritual, sendo retirada e substituída tão logo cumpria sua finalidade. Povos africanos provenientes do Congo e Moçambique também portavam pinturas corporais, algumas com escarnificação.
          Hoje vê-se um retorno da pintura corporal, na difusão de tatuagens ( permanentes), num esforço para identificação, nomeação ou adição estética. No atual  mundo incerto e massificado, essa  moda reflete a ânsia do brasileiro de perceber-se único, mas apegado a signos, emblemas, ornamentos que o defina e oriente, muitas vezes de inspiração tribal.
          Na arte contemporânea ( laica) o corpo é "um campo de batalhas", suporte ou meio de expressão artística, trabalhado ora na superfície com múltiplas performances, ora no interior, polo de integração e desintegração formal.
          Lia Chaia desenha o corpo com uma caneta: a caneta circula sobre a pele, faz espécie de ritual de reconhecimento, como uma brincadeira de criança; repete os movimentos até o fim da carga da caneta.

          Ana Maria Maiolino desperta a memória corporal, engole um longo fio, e a imagem do vídeo resultante se desdobra no tempo, repete-se infinitamente.

         Nazareth Pacheco aborda o lado estético das práticas de manipulação do corpo para  tratamento de pele, de cabelo, lipoaspiração, implante cirúrgico, etc. Apresenta objetos cortantes e de perfuração que remetem ao medo e à repulsa.

          Victor Arruda pinta o corpo todo estraçalhado, despedaçado como referência de perda e de violência sofrida.

          Cristina Salgado insere  feminilidade às esculturas de imagens díspares do corpo, como dedos muito longos que indicam uma direção, e formas inusitadas que se unem de modo surpreendente.

          Outra abordagem parece incrementar o embate: é o interesse pelos mortos-vivos, zumbis e vampiros no cinema, teatro, performances, e expressões afins. Até o  filósofo David  Chalmers acredita  que os zumbis são fisicamente possíveis...Mas, se  ao rei absolutista cabia a decisão de deixar viver ou fazer morrer, hoje cabe aos cientistas a decisão de fazer viver (inseminação artificial) ou deixar morrer( eutanásia). Transformação inquietante e problemática que engendra a obsessão pelo corpo dos ressuscitados , daqueles aos quais o direito ( de vida e morte) não se aplica mais.
          Direção mórbida e irreverente, coloca a arte no limite entre a fascinação e a repulsa, a violência e a complacência com a desintegração física. Demanda ao artista muita criatividade na elaboração de personagens, mas para o público levanta sérios questionamentos relativos à recepção da imagem. Que consequências psicológicas trará  para o espectador o assédio de tantas imagens violentas e deprimentes? O futuro dirá, e poderá constar da exaltação do insólito, do avanço das doenças psicossomáticas, ou do inesperado retorno ao sagrado, ao desejo de união entre o corpo e a alma em busca da perfeição, da harmonia, da beleza , da paz, da integridade e da compaixão. 
          "A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente".- disse Aristóteles.


         
         
         

quinta-feira, 11 de abril de 2013

As Idades do Olhar

       As Imagens na História da Arte Ocidental
                                    PRIMEIRA IDADE DO OLHAR(tempo cíclico)
A Imagem é:
  • um ser vivente e vidente
  • um ídolo que garante proteção e saúde
  • refere-se à eternidade, ao espaço da alma
  • atribuída ao grupo ou anônima
  • originária da Antiguidade ou da Idade Média
  • é um tesouro público
Objeto de culto:
O SANTO (o sagrado)
"EU VOS GUARDO"


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SEGUNDA IDADE DO OLHAR (tempo linear) 
A Imagem é:
  • uma coisa que é vista
  • representação ilusória do real
  • obra de arte que busca deleitar
  • refere-se à tradição (transmissão de valores)
  • originária da Europa ( Florença séc. XV)
  • atribuída ao artista
  • pertence ao colecionador ou particular
Objeto de culto:
 O BELO
"EU VOS AGRADO"

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TERCEIRA IDADE DO OLHAR ( tempo pontual)
A Imagem é:

  • uma percepção virtual
  • espera informar e divertir
  • refere-se à atualidade
  • atribuída à empresa ( empreendimento)
  • domínio privado ou público ( reprodução)
  • originária de Nova York ( final do séc. XX)
 Objeto de culto:
O NOVO
"EU VOS SURPREENDO"

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Compilação do resumo do livro:
Debray, Régis: Vie et Mort de l`Image, Éditions Gallimard, France, 1992.





segunda-feira, 25 de março de 2013

A Bela Imagem

          O programa "Triângulo das Geraes" apresenta projetos de excelente qualidade: busca divulgar iniciativas  educacionais e culturais que têm êxito nos municípios mineiros.
           Alguns projetos são direcionados para a pesquisa da biografia dos  heróis, políticos, escritores, poetas, pintores, músicos e demais personalidades da história de Minas. A apresentação do programa na tv  é feita com grande sensibilidade, e os entrevistados (ou descendentes) podem expressar livremente suas opiniões, com simplicidade.
          Os historiadores explicam os monumentos históricos, descrevem a  arquitetura, as esculturas e pinturas barrocas e rococós que são o orgulho da arte que floresceu nas cidades mineiras durante os séculos XVII e XVIII. Mostram também como as pessoas convivem com essas obras, os meios de conservação do patrimônio, e a importância para o turismo.
          Outros projetos visam bens culturais em constante transformação.
          A orquestra de vidro que os professores de Educação Musical de Passos criaram com as crianças utiliza poucos recursos  com muita criatividade: as garrafas cheias de água em diferentes quantidades propagam   sons correspondentes à escala musical, à medida em que são tocadas pelas baquetas revestidas de durepox. A flauta doce acompanha o conjunto, e o resultado é ótimo.
          Já o projeto " O rio que anda para trás" busca resgatar conhecimentos ancestrais das populações do cerrado e povoados distantes. O raizeiro ensina o uso correto das plantas medicinais e os alunos ( orientados pela professora) anotam e transformam em livros digitalizados. É uma iniciativa de grande valor, pois essas referências da biodiversidade tendem a perder-se por causa da concorrência dos remédios industrializados. 
          A revitalização das brincadeiras de rua, as rodas, cirandas, cantigas e jogos coletivos que vão  se transformando com as novas gerações. Nessas brincadeiras as crianças treinam o relacionamento com o outro, a gentileza, o respeito, o contato físico, exercitam a alegria e o afeto. Enquanto as crianças das grandes cidades estão restritas ao computador e à disciplina escolar, a periferia ainda guarda esse espaço de liberdade.
          E não só no Brasil esse movimento de resgate tende a crescer. Na França (tv 5) nas pequenas cidades, as professoras primárias estabelecem parcerias com os jardineiros, e levam as crianças semanalmente para cultivarem a terra, identificando o nome  das flores e as qualidades de cada uma; no pomar e na horta aprendem o tempo certo de plantar e colher. Após a colheita, fazem sopa e salada de frutas.
           Há interesse em preservar a memória para o bem das futuras gerações. Assim pode-se dizer que enquanto o rio anda para trás, a margem clareia a página....e emoldura uma bela imagem de inestimável valor....
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          Descubra as vantagens de fazer Horta Caseira e Agricultura Natural no site da Fundação Mokiti Okada: fmo@fmo.org.br .

quarta-feira, 13 de março de 2013

A nossa imagem

          No  Canal Brasil Roberto d´Ávila recebeu Domenico de Masi. O sociólogo italiano mostrou conhecer bem os problemas do Brasil. Fez uma comparação bastante interessante: disse que as telenovelas (por seu alcance midiático) cumprem um papel mais importante do que cumpriu a Capela Sistina pintada em 1541 por Miguel Ângelo.
          A obra ( O Juízo Final) tinha por finalidade traduzir em imagens relatos bíblicos, seguia a tradição que se iniciara na Idade Média de facilitar a compreensão daqueles que não sabiam ler, a maioria. Miguel Ângelo estudou a anatomia, expressões fisionômicas, gestos, panejamentos, cores e efeitos de pinceladas. Criou imagens idealizadas de Jesus e dos santos.  Pintou a si mesmo na pele que segura São Bartolomeu, o santo que foi esfolado vivo em martírio por não querer renunciar à sua fé.  Nessa obra, a arte imita a vida eterna dos que almejam a salvação em Cristo.
          Já as telenovelas brasileiras inspiram-se na vida real, encontros e desencontros vistos ou imaginados, espécie de desdobramento da Comédia Humana, obra maior de Honoré de Balzac. No entanto, falta-lhes o que de Masi analisa muito bem: a profundidade da experiência, a originalidade do contexto múltiplo cultural do Brasil.
          Aprofundar o olhar significa reler e repensar as obras de Gilberto Freire, Monteiro Lobato ( para adultos), Lima Barreto, Mario de Andrade, Pierre Verger, Sílvio Romero, Antonio Calado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Roberto da Matta, Arthur Ramos, Nina Rodrigues, João Ubaldo Ribeiro, Manuela Carneiro da Cunha, Alberto Costa e Silva, Eugênio Bucci,  Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Guimarães Rosa,  e tantos outros.
         
           A enorme audiência do incisivo meio de comunicação, difusão e transformação de costumes  (a tv) permite ao autor e roteirista dispor de poderosa fórmula de educação popular.

           Se na França a educação popular chegou com Diderot, efetivou-se quando a Revolução francesa ergueu a arquitetura falante e difundiu princípios como : "As virtudes do povo são os mais firmes sustentáculos da igualdade: civismo, concórdia, trabalho, economia e sabedoria".

            Mas no Brasil a educação popular ainda caminha lentamente. Para acelerar o processo, Domenico de Masi propõe um reposicionamento dos intelectuais brasileiros, atitude incisiva e consistente entre criadores e criaturas. Aprofundar o olhar e agir.

          Ler e repensar não quer dizer copiar, mas  encontrar embasamento para a criação de personagens verossímeis, com atitudes coerentes e lógicas,  que  engendrem transformações úteis do ponto de vista pessoal e social. Se a novela pode lançar modas (vestidos, sapatos, penteados, etc,) que são copiadas imediatamente, também pode direcionar o enredo para soluções inteligentes de superação das dificuldades coletivas: trabalho em equipe, invenções originais, propostas políticas e libertárias, efetivos assentamentos em lei das questões de ordem pública, redescoberta de hábitos saudáveis, valorização da auto- estima e da honestidade, elevação do nível de atuação dos personagens para que alcancem perspectivas de amplitude ética e moral. O futuro não é mais o que era, mas ainda é possível agir sobre ele.
          Nesse caso, a vida imitaria a arte, e todos teriam muito a ganhar com isso... Como é difícil observar a si mesmo! Obrigado a de Masi por ajudar-nos nessa difícil tarefa!
          Como declarou de Miguel Ângelo "reformar uma pintura não custa muito", mas pôr o mundo em ordem...

Sem autenticidade, sem educação, sem liberdade no seu significado mais amplo - na relação consigo mesmo, com as próprias ideias pré-concebidas, até mesmo com o próprio povo e com a própria história - não se pode imaginar um artista verdadeiro; sem este ar não é possível respirar."
Ivan Turgueniev -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
          O documentário "Walachai" de Rejane Zilles faz exatamente o que De Masi propõe:  nele o Brasil devolve ao mundo arte, beleza e sabedoria que recebeu dos alemães, hoje  readaptados ao sul do país, onde integram uma comunidade em perfeita harmonia com a natureza. Envoltos numa paisagem deslumbrante, descendentes gaúchos praticam  a agricultura natural, constroem seus próprios instrumentos de trabalho e transporte. São felizes em sua simplicidade, unidos por forte amizade, e desfrutam de um paraíso sem igual. Vale a pena assistir.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eva viu a Imagem

          Tribos do Marrocos contam uma história: Eva passeava pelo Jardim do Éden, quando a serpente se aproximou.
          - Coma esta maçã - disse a serpente.
           Eva recusou.
          - Coma esta maçã porque você precisa ficar bela para o seu homem - insistiu.
         - Não preciso - respondeu Eva - ele não tem outra mulher além de mim.
          A serpente riu:
          - Claro que tem.
          E como Eva não acreditasse, levou-a até à beira de um poço, e mandou que olhasse a mulher escondida no fundo. Eva debruçou-se e viu, refletida na água do poço, a imagem de uma linda mulher . Na mesma hora, comeu a maçã, e perdeu o paraíso para sempre.
          Pergunta-se: quem enganou Eva? A serpente ou a imagem? Era uma imagem nítida? Havia luz suficiente no local? A que distância estava?... A má interpretação de uma imagem pode conduzir a erros? É evidente que sim...E o que se pode fazer para evitar?
         Refletir sobre a imagem e analisá-la de diferentes pontos de vista, desde sua concepção ( quer se trate de uma pintura, escultura, fotografia, desenho, etc.).
Paul Delvaux "O Espelho" 1936

Movimento
          Se a imagem se movimenta ( ou treme), tem boas chances de alongar-se ou encolher-se, alterando sua forma. Se é o espectador quem se move, então pode ter muitos ângulos de observação, e portanto alterações de imagem.
Luz
          A imagem modifica-se quando exposta à luz natural ( claridade ou penumbra) e à luz artificial. Projeção de luz colorida sobre a imagem altera completamente a superfície iluminada.
Tempo
          Condições climáticas ( as estações) influenciam a percepção da imagem. Também o tempo de exposição (ex: se a pessoa observa por alguns segundos a imagem, só poderá reter uma impressão geral das formas, mas se demorar algum tempo na observação, perceberá detalhes.
Espaço ( distância)
          À medida que a imagem afasta-se do observador, ela perde a nitidez. Á grande distância, não se pode dizer se uma silhueta é homem  ou mulher.
Suporte ( onde se assenta)
          Os suportes possibilitam diferentes tratamentos da imagem. Existem imagens pintadas sobre muros, paredes, sobre madeira, sobre tela, tecido, etc. outras são esculpidas, talhadas, modeladas, construídas. Imagens desenhadas sobre papel, impressas em fotos, digitalizadas e projetadas no espaço. E imagens naturais, como a que enganou Eva.
Precisão
          Uma imagem pode ter contornos bem definidos, de traços nítidos, ou ter contornos borrados, meio apagados, indefinidos e diluídos no fundo.
Produção
          A imagem pode ser produzida por um artista independente, por um grupo a serviço de uma mecenas ( financiador), por uma instituição religiosa, por um grupo empresarial, por uma agência de propaganda,por uma agência especializada em produções artísticas, pelo governo, por partidos políticos. A própria natureza produz imagens na superfície das rochas, no céu, no mar, etc.
Finalidade
          Uma imagem serve para deleite e expressão do próprio artista; para cumprir tarefas de magia; para adoração religiosa; para meditação; para reverência e adoração de líderes; para delimitar territórios e posses; para reconhecimento de grupos nacionais, esportivos, empresariais; como provas criminais; para identificar indivíduos e fatos; para induzir ao consumo; para prevenir; para intimidar; para confundir;  para criar toda sorte de ilusão nos diferentes caminhos da arte; para celebrar a vida, quando é imagem da própria natureza.
Identidade
          Uma imagem pode ser idealizada, isto é, a soma das qualidades de uma pessoa (ou objeto) que o artista tem em mente, ou pode ser a cópia fiel realizada a partir de minuciosa observação de detalhes da pessoa (ou coisa) retratada. Ela também pode ser alterada ou adulterada com diferentes técnicas de produção. Isso possibilita maior ou menor identificação com o original.
 
          Bem, esse é um pequeno estudo, mas já é um começo para não se deixar enganar pela imagem, pois, segundo os marroquinos, volta ao paraíso aquele que se reconhece no reflexo do poço, e não teme a si mesmo...
Joan Miró "Mulher ao Espelho" 1956

         
         
        

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Estilo

          Sobre as descobertas artísticas, escreve E. H. Gombrich, no seu livro Arte e Ilusão  ( ed. 2007): "A História da arte, (...), pode ser descrita como o ato de forjar chaves-mestras para abrir fechaduras misteriosas dos nossos sentidos, cuja chave original só a Natureza tinha. São fechaduras complexas, que apenas se deixam penetrar quando diversos parafusos ficam de prontidão e certo número de trincos são movidos simultaneamente. Como o arrombador que tenta abrir um cofre-forte, o artista não tem acesso direto ao mecanismo interno. Pode apenas apalpá-lo com seus dedos sensíveis, sondando um gancho aqui e ajustando outro ali, quando alguma coisa cede lá dentro. Naturalmente, uma vez aberta a porta e feita a chave, fica fácil repetir a proeza. Quem vier depois não precisa ter discernimento especial - basta-lhe a capacidade de copiar a chave mestra de seu predecessor".
          Significa dizer que  frequentemente os artistas estudam as obras  uns dos outros, e assim transformam seus estilos, inventam outras possibilidades a partir da experiência bem sucedida de seus predecessores: os gregos aproveitaram a experiência dos egípcios, os romanos dos gregos, a arte medieval guardou herança da Antiguidade clássica, com simplificação do naturalismo e agregação de elementos da fé cristã. O Renascimento tornou-se uma estrutura que se deixou penetrar pela revisão, buscava reviver o antigo, e foi mais longe: fez descobertas como as leis da perspectiva, a profundidade, a sombra projetada, a representação dos objetos à distância, à luz natural do sol. O maneirismo, barroco e rococó acrescentaram outras invenções. Mas todas inspiravam-se de algum modo na "imitação da natureza".
          Já os artistas modernistas vão pouco a pouco abandonando as representações naturalistas (onde o espectador entra pela "janela por onde se pode olhar a cena"), em busca de novas ilusões por onde se pode viajar, mas apenas com a vista, num espaço RASO. Dadaísmo, cubismo, fauvismo, surrealismo são movimentos que  surgem quase ao mesmo tempo no rastro da modernidade.. Mais tarde, aparecem  vários tipos de arte conceitual ( que trabalham a IDÉIA mais que a forma), e o desconstrutivismo.
          Sobre arquitetura e estilo, escreve Viollet-le-Duc em L´Architecture Raisonée :
" O estilo é, na obra de arte, a manifestação de um ideal estabelecido sobre um princípio. O estilo pode alastrar-se como uma moda, há então o estilo absoluto e o estilo relativo. Estilo absoluto domina toda a concepção, o estilo relativo segue a destinação do objeto. Exemplo: um estilo que convém a uma igreja, não convém à casa, mas a casa pode deixar transparecer o estilo da igreja". Será então um estilo relativo. Do mesmo modo, se um estilista de moda inspirar-se na obra de um pintor.
          Por conta disso, cada pessoa, por sua iniciativa, pode eleger um estilo para decorar sua casa, fazenda, consultório, escritório, etc. As obras de arte devem combinar com o estilo do lugar, e  dependem do gosto de cada um.
          Saber vestir-se adequadamente em diferentes horas do dia, e várias ocasiões demonstra bom senso, perspicácia e estilo. As roupas, acessórios e objetos pessoais revelam as personalidades. Mas o importante é não se perceber limitado pelas  tendências da moda.