domingo, 22 de dezembro de 2019

Lendas brasileiras de origem africana

 Letras de Angela Cacicedo.
XANGÔ
Xangô meu pai poderoso
olha as minhas aflições
que já morri muitas vezes
muitas vezes renasci,
e com teu axé formoso
milhões de lutas venci.

Já rastejei feito cobra
entre as garras do leão.
Já andei na corda bamba,
já passei de maão em mão.
Atropelei o meu samba
e no final da manobra
eu dei de cara no chão.

Tem dois lados o machado
dois olhos tem o falcão.
Mas o traço do riscado
é que marca a posição.

Capitão vira soldado
e vassalo vira rei.
É pra ver que o destronado
assim trocando de lado
percebe a força da lei.

Xangô envia teu raio
de justiça reluzente,
acerta logo no alvo
bota a verdade de frente.











/>

OXALÁ
Lavei minh´alma na fonte
das águas de Oxalá
e  o inferno de Caronte
esse ficou por lá.

Lavei com ervas de cheiro
pra benzer meu orixá
e no ponto do terreiro
o futuro que virá.

lavei as mãos com arruda
os cabelos  com alecrim
e o carrego que afunda
ficou bem longe de mim.

Oxaguian é beleza
corajoso, homem forte,
mestre da natureza,
portador de boa sorte.

Oxalufan é idoso,
sábio rei coroado,
de cerne generoso
lá  no Bonfim adorado.

O divino não tem forma
e o bem não tem idade;
existe só uma norma
a própria felicidade.



OXUNMARÉ
Olódùmaré tem problema de vista:
nuvem difusa pista irregular.
Que vale um deus que não pode ver?
Um pai ausente, um rei vidente
sem coroa nem lar?

Olódùmaré chama Oxunmaré:
meu bom amigo venha me curar.
Oxunmaré chega bem contente:
Aô Moboi! Aô Moboi! Aô Moboi!
Não chora porque não dói.

Que todo mal tem um lado fraco
que o lado forte pode derrotar.
O debaixo agora vai pra cima
e o de cima volta pro lugar.

Felicidade Olódùmaré sorri.
Só o amor faz tudo mudar.

Oxunmaré vai morar no céu,
que são os olhos do poder do mar.
Espelha as águas em feixes de luz
e o arco-íris a irradiar.


NANÃ
Os tambores falam
que antes de você e eu,
entre neblinas cambiantes
morava uma deusa  orante
rainha do pantanal.

Seu vulto é o que se vê
e o rasto que se perde
na caverna natural.

E nessas águas profundas
mergulho meu padecer
à procura de Nanã
 Nanã  Nanã Burokê.


]Ela me olha de frente
e depois vira de lado.
Não posso crer que o menino
embaralhou o critério,.
Sim existe amor eterno
Mas toda arte tem mistério.

Tem pena, velha tem pena,
desse coração perdido,
que um dia foi amado,
mas anda desnorteado,
e o pio mocho condena.
Tem pena, velha, tem pena:
me benze com o teu cajado...


TUTU MORINGA
Vê aquele negro triste
que chora à mesa do bar?
Ele perdeu seus meninos
e disso não quer falar.

Vendido à meia-pataca
num estrado junto ao cais,
levou sinete de marca
que não se apaga jamais.

Trocado num orfanato,
quando um dia ele sumiu,
foi por causa do contrato
que o patrão exigiu.

Levado  numa corrente
de cordão de carnaval,
que arrasta muita gente
que se acredita imortal.

Caçado na noite fria
pela tropa regular;
disso ele não sabia
nem podia imaginar.

Queimado frito num ninho
por um sonho de revés,
que enrolou  de espinho
o ouro feito nos pés.

Olhos d´água negro pinga
Lamenta tutu-moringa
remoendo a solidão.
Gente humilde não se vinga
porque tem bom coração.















sábado, 21 de dezembro de 2019

Lendas brasileiras de origem indígena

GÊMEOS KAINGANG      Vieram da cor de terra
com a luz da proteção
de um buraco na serra
mistério da Criação.

Na tribo dos Kaingangs
nasceram um dia de fé
os gêmeos irmãos de sangue
kanyerú e Kamé.

Kanyerú o primeiro
era magro em aparência
tinha o passo bem ligeiro
mas de pouca persistência.

Criou a pele manchada
dos seres da natureza,
sardentos cobra pintada
orquídea flor de princesa.

Logo depois surgiu Kamé (Kamé...)
Era do tipo gordinho,
e com prudência no pé
andava bem de mansinho.

Tudo riscado que há
criou Kamé lentamente
onça anta gambá
e o bicho tamanduá...

Tudo é duplo neste mundo
tudo tem sua maré
o direito tem esquerdo,
Kanyerú tem Kamé,
que nunca teve pajé
nem guru nem presidente,
só amoroso axé
de coração inocente.

( Kamé Kanyerú Kamé kanyerú Kanyerú Kamé...)


https://drive.google.com/file/d/1-BrBfCEQmsvH3szp4qkmEVqmtcYrWona/view?usp=sharing



ÀRVORE DE UANSQUÈM
Dá toda sorte de fruta
na árvore de Uansquém
tem cajá tem carambola
abacaxi graviola
e sapoti também tem.

O guabiru já sabia
essa planta é encantada;
a floração vai surgindo
cada qual por temporada.

Quando o povo descobriu
incitou a derrubada;
comeram as frutas verdes
e não sobrou quase nada...

Uansquém ficou tão triste
sem saber o que faria...
Falou semente na terra
é cuidado noite e dia.

E de agora em diante
cada broto que nascer
terá distinta qualidade,
e crescerá se chover,
se semear e colher,
laborar a humanidade.

Adeus árvore encantada
vão os campos florescer
e o povo agradecer
se quiser fazer salada.

BAHIRA
Bahira é grande chefe
da tribo Kaiowá
.Vê segredos na floresta
o que veio, o que não veio,
o que foi o que será.

Do outro lado do rio
mora uma tribo pesqueira.
Têm boas flechas de pau
e pontaria certeira.

Bahira quer aprender
a pescar dessa maneira.
Tece quatro esteiras leves,
um cesto em forma de peixe
com as folhas da palmeira.

Logo que o dia amanhece
mergulha na corredeira:
vestindo o peixe disfarce
escondido bem no meio.
O povo acerta Bahira
com rapidez boa mira.

De volta à sua maloca
recolhe o saber alheio,.
Estuda ensina retoca
as flechas bem afiadas
que ele copia o ponteio.

OH!Que fartura se vê
na hora da pescaria!
Tambaqui corvina perequê
assado moqueca pirão.
Nunca houve ou haverá
na nação Kaiowá
um chefe como Bahira!
Nunca houve ou haverá
na nação Kaiowá
um chefe como Bahira!

ORIGEM DOS KARAJÁS
Com poder e magia
trabalhou o Criador
e fez a terra do nada
com o sopro do seu amor.

Derramou sobre as montanhas
cabaças de água doce,
e fez sair das entranhas
as plantas da superfície,
os cabelos da planície.

E, se muito pouco fosse
criou os animais
para que fossem eternos
fraternos com os demais.

Mas os peixes aruanã
queriam ser outra espécie
pra caminhar sobre a terra
subir e descer a serra
dormir acordar de manhã...

O desejo coletivo
num processo alternativo
na terra dos karajás
gerou a humanidade,
há muito tempo atrás.

Se ela travou a eternidade,
e dispensou o paraíso,
nunca perdeu o juízo
busca a felicidade.


O PIRARUCU
Sinto cheiro de fumaça.
Bebo o caxiri da paz
que o tuxaua Ariá
da Amazônia nos traz.

Quando nasceu Inaiê,
netinho de Ariá,
disse trará riqueza e fartura,
no Grande Rio reinará.

Cresceu Inaiê valente,
e gostava de nadar.
Mas de além-mar veio gente
pra tomar posse da terra
que era o berço da raça.
Sinto cheiro de fumaça,
sinto cheiro de fumaça.

Falou Inaiê: " Nem morto!
Terra rica em ouro e prata,
níquel nióbio hematita,
embaixo jaz o conforto,
mas em cima cresce a vida!"
Manaus manaus manaus manaus
Manaus manaus manaus manaus

Lutou por anos sem trégua,
mas foi no peito ferido,
pulou no rio que teve
o espelho d´água tingido.
Daquele leito vermelho
surgiu o pirarucu,
nosso peixe bacalhau,
mais suave e saboroso
que o xará de Portugal.


A CRIAÇÃO DO HOMEM NO ALTO XINGU
Tsinim vivia sozinho
assim assim no seu cantinho
mas sempre na esperança
de ter família e festança.

Tsinim foi caçar no mato,
e encontrou uma onça
que era macho de fato,
com poder de pajelança.

O onça falou: Tsinim
você tão jovem tão novo
experimenta...
Corta troncos de madeira,
neles passa pimenta,
pinta enfeita põe cocar,
que quando o dia raiar
você terá o seu povo!

Cortou caninã vermelho,
mas nisso errou o conselho.
Só quando usou o cuarupe
é que nasceu sua trupe.

Os troncos viraram gente,
e a gente virou parente,
Tsinim casou muitas vezes
Huká-huká-huká- huká
Gu-gu-gu-gu.
Dança compete disputa,
e no Xingu são felizes!


LENDA DO MILHO
Numa noite de luar
desceu do céu foi amar
um guerreiro solitário.
Candiê -cuéi estrela feminina
antes de nascer o sol
disse agora vou embora;
vejo surgir a aurora.

Mas o zeloso rapaz
pôs a moça num porongo,
e foi em busca de caça,
que o dia seria longo...

De volta, à tardinha,
disse luz estrela minha
vem morar com esse guerreiro,
e deixou-a no terreiro.

Candiê-cuéi deu à sogra
sementes de milho
pra cultivar no quintal,
fazer curau papa doce
 pamonha e mingau.

E se ficar amarelo
moer farinha e farelo
pra assar broa de milho,
na maloca comer pipoca!


BEP=KOROROTI (herói civilizador)
Caiu uma bola de fogo
na aldeia Kaiapó.
Dela saiu um ser
de couro duro de ver,
esse tipo era cotó.

Será um tamanduá(sem rabo?)
será serpente ou jaguar
será ave ou será gente?

Guerreiros em prontidão
atacaram de bastão,
mas nenhum mal lhe faziam.

Quando o sol aparecia
tirava a pele o estranho,
deixava à beira do rio,
fosse calor fosse frio
ele tomava banho....

Só então se descobriu
era um homem diferente,
que sabia muitas coisas
e ensinava pra gente.
A secar a mandioca
sem usar  o tipiti,
a tirar bicho da toca,
viva Bep-kororoti!
Viva Bep-kororoti!
Viva Bep-kororoti!

Um dia voltou pro céu,
num salto de fogaréu.
Assim fala o bem-te-vi.














Lenda de origem portuguesa

ORQUÌDEA  REAL


As flores da natureza
podem ter explicação:
a orquídea foi rainha
na casa de D. João.

Ela teve duas filhas
do primeiro casamento,
mas casou-se outra vez,
e mudou o sentimento.

Nasceram outras princesas/ que disputavam o trono,
entre choros e tristezas/ a corte perdeu o sono.

Hoje a família real
já se vê organizada.
Rainha no trono central,
e a querela encerrada.

As herdeiras preferidas
uma de cada lado
abrem pétalas erguidas,
elas despertam amores,
entre perfumes e cores
são a glória do reinado.

As princesas rejeitadas
olham pra baixo cansadas,
são as pétalas pequenas
que se vê a duras penas
no orquidário fechado...