FALSOS ÍDOLOS
No cinema corre o drama.
A platéia se diverte,
e depois muda o programa.
Celebridades e deuses
alavancam seguidores,
por eles matam e morrem,
e logo trocam de amores.
Idolatria incomoda
é top de moda BIS
do senso geral.
A Orfeu foi confiado
mistério da criação
que nesta terra prospera
em busca de evolução.
Não é trato de poeta
na vida tomar partido;
um pedaço separado
do todo não faz sentido.
Idolatria incomoda
é top de moda BIS
do senso geral.
Cada um tem sua crença
presença ideia e mito.
Da tela tomar distância,
em busca da tolerância
amenizar o conflito.
Olhar as flores do campo
com a luz fechar compromisso.
Claridade afasta três males:
o medo a mentira o feitiço.
SANTANDER
A Virgen del Mar que protege
as praias de Santander
desembaraça o destino,
mas não frequenta o cassino
para o que der e vier.
San Emeter Celedonio BIS
tradiçãso e patrimônio.
Antiga vila mui sábia
jóia pura da Cantábria,
corazon de Altamira
na grota que se admira
a multitude de rotas
do valoroso ancestral,
que já peitou muito touro
e encantou muito mouro
no ciclo medieval.
San Emeter Celedonio BIS
tradição e patrimônio
Hoje canta com a sereia
e comemora na areia
na praia da Magdalena
muita paz e vida plena.
Flor do Passeo Pereda
o porto e a alameda.....
Visite assim que puder....
Santander
Santander...
Santander!
SANTIAGO
De dia vi Santiago
com lápis e papel
carvão e pincel.
Fazia retrato
de preço barato,
mas cópia fiel!
Artista, copista, ou vendedor?
Artista copista, ou sonhador?
De tarde vi Santiago
no largo, na tenda;
um rosto expressivo
no espaço da venda.
Artista, copista ou vendedor?
Artista copista ou retratista?
Sorriso bem vivo
que atrai e seduz.
De noite vi Santiago
debaixo da ponte,
debaixo da luz.
Artista, copista ou vendedor?
Tomara que um dia te dêem valor....
SARITA
Nasceu a menina Vera
filhota da Conceição.
Era Lucia dos caminhos
mas por força e desatino
e curvas da contra mão
virou Sarita e habita
come e dorme no chão.
Casa ela tem (não se engane):
um barraco na favela;
mas um dia sem aviso
cortaram a água dela.
Pra rua foi a Sarita
gira o mundo na rasteira
vende troca manobra
a fome a luta a canseira.
No jardim de todo mundo
lá tem água na torneira;
folhas de verde castanho
pombos sujos na soleira
do coreto pavilhão;
toda água lá deságua
no fosso da podridão.
Mas é feliz a Sarita
com as flores do jardim;
tem amigos tem conversa,
tem ladainha de crente
samba amores tamborim
e intervalos da mente.
Ora chegam ora partem
o sarcasmo o riso a peia,
e tudo muda de nome
na roda da vida alheia.
A fraca mão que segura
a clava o escudo o bordão
solta acaba de repente
rico pobre ninguém dura,
pó de terra tudo cobre
até mesmo a solidão.
Fosse vidente a Sarita
veria a corda sem fim
que ata desata aperta
as pedras desse jardim.....
PARIS
O que buscar em Paris?
Novidades de butique
Humorista quase chique
ou desenhos de Lalique?
O que buscar em Paris?
Les ébenistes pintores
impressionistas de flores
les ateliers découpage
Mosaico tela marouflage
ou l´enfant des passages?
O que buscar em Paris?
Edith Piaf Aznavour
grandioso Pompidou
moda sabores bijoux
Les bouquenistes do Sena
textos rimas vale a pena
gente alegre pra chuchu.
MUNDOS SUTIS
Flores da vida renascem
em cascatas virtuais
que o eterno presente
abre em jogos factrais.
Ramos comunicantes
atravessam dimensões
em correntes radiantes
astros estrelas aos milhões.
Agora é tempo de paz
delicadeza que traz
beleza perfume cor.
Oh¹ Vigilante condor
que voa em espirais
acorda as criaturas
avisa lá das alturas
aos olhos do Criador
os homens vão querer mais.
E no jardim fechado
do labirinto sai
aquele que pelo instinto
vai tecendo coligado
nas interfaces do amor....
Agora é tempo de paz
delicadeza que traz
perfume beleza cor.
SILÊNCIO
Havia no Antigo Egito
um deus bem particular.
Era o deus do Silêncio
na forma de não pensar.
Entre as notas musicais
dorme esse deus tranquilo
que dispensa rituais
oferendas falso brilho.
Amor, para o Silêncio
basta ser, não falar nada,
e a cada passo da dança,
avança, na paz, amada.
Tantos trajetos perdidos
enganos esquecidos
que o Tempo dispersou.
Ouça, o Silêncio e o Tempo
são dois amigos mestiços:
enquanto o Silêncio cala,
o Tempo faz rebuliços....
VIZINHOS
Estou por dentro
estou fora
agora ouço quem chora
no apartamento ao lado.
Será um homem falido
que engole sua ambição?
Uma vida sem ternura,
desamor ingratidão
Será lamento de pai
de tanto argumento vai
pingando gotas no chão.
Fraturas expostas
revelam finas costuras.
Vou desfazer o muro
e pela parede br />
passar uma rede
de pura amizade.
À noite dorme a cidade
lanço uma luz no escuro...
NATAL
É Natal.
A fada azul
sacode o manto
de estrelas
sobre a cidade.
As crianças sonham
árvores de frutos gigantes.
É Natal.
A fada azul
sacode o manto
de estrelas
sobre a cidade.
Por cima dos telhados
passa um vento-cola brincalhão
e prende as estrelinhas
]no desenho
de mil formas e claridades.
Assim
os olhos das crianças
ficam brilhando no céu.
É Natal.
A fada azul
sacode o manto
de estrelas
sobre a cidade.
Num planeta distante
um ser bondoso
tudo vê...
Bate palmas,
e sorri.
COMETA RISONHO
Cometa risonho
semente de sonho
abrigo de estrada sem fim.
Espiral aberta
trajetória incerta
que leva consigo
boreal passagem.
Na curva do vento
sem dor, sem lamento,
ardente miragem
de flor de jasmim;
forma e deforma
a cor da paisagem....
Cometa risonho
abrigo de água sem fim,
onda curva aberta
que leva consigo
semente de sonho
da planta da paz.
Velas vão ao vento
todo sofrimento
fica para trás:
um anjo desperta
num voo de momento.
PALAVRA
Procuro-te
Procuro-te:
Nas marcas das mãos,
nas linhas, nos vãos,
Procuro-te
papel e poeira,
página virada,
indelével.
Palavra perdida BIS
nas lidas da vida.
Procuro-te:
a meio palmo,
a meio pano,
coberta de cera,
intocada.
Palavra guardada BIS
da honra firmada.
Nas somas dos erros,
no til dos segredos
em vozes caladas,
a chama extinta,
rasurada.
Palavra banida BIS
da dor esquecida.
No canto da boca.
deformada.
Na ponta do lápis
compasso de espera
intangível.
Palavra suspensa BIS
no tempo parada.
O limite desintegra
e some.
Alcanço-te:
inesperada!
ORIGAMES
Algum sintoma me diz
pra desdobrar o reverso
do verso que se calou.
Dobrou-se no parapeito
estreito de uma janela,
cortina de solidão
e a vida que sai por ela.
Ruas de mapa trocado,
trajeto sem diretriz,
foi no arame farpado
que meu sentido afinado
rasgou e fez cicatriz.
Naquela mesa de bar
dobrei o jogo de aposta;
nem precisei perguntar
pois já sabia a resposta.
Hoje nosso origami
é ausente de presente:
não acumula o passado,
nem antecipa o futuro.
É nesse colchão tão duro...
que dorme o sonho da gente.
OLHOS AMARELOS
Os teus olhos amarelos
mergulham paralelos
em meu espaço curvo.
Indagam da saga triste
opaca de brilho turvo.
Responde a pedra do sal
o sangue ainda circula
escorre e cheira mal.
E, se cavar mais fundo
vai chegar em outro mundo
onde raízes gigantes
arrastam cipós correntes
e a gente...AH! minha gente morre
entre heróis e atlantes.
Os teus olhos amarelos
fazem tremer meu coração,
mantém minh´alma cativa,
névoa e sombra embaçam
a objetiva.
FRESTINHA
Saí olhando nas fendas ( voz masculina)
na casca fina do piso
por onde passam as lendas,
o eco o assombro o riso.
Botei vestido vermelho (voz feminina)
de estamparia tribal,
e fui dar uma voltinha
lá pros lados da Central,
Toquei pra escadaria,
mas parei admirada
pois um distinto fulano
ia subir por engano
a escada que descia...
Deu de mão e contra mão,
cuidado olha pro chão...
Escapuli na frestinha,
Dizem destino não há.. (voz masculina)
cantou em iorubá
banto talvez malês,
o carioca africano
não falava português.
Cai não cai, (vozes m e f)
segura o tombo
ai ai ai...
(
Eu tinha uma figa de pau ( voz feminina)
no colar balangandã,
mas tropecei no vazio,
embolei fio no fio,
na corda do berimbau
do atabaque o tan tan.
No território da Lapa ( voz masculina)
nenhuma garota escapa
de uma jogada coringa...
Um moço tira o chapéu,
um samba de léu em léu.
Volta aqui chega pra cá
quem não pode com a mandinga
não carregue patuá.
Cai não cai, (vozes m e f)
segura o tombo
ai ai ai...
O JANTAR
Éramos três mulheres
que te queriam tão bem
cada qual no seu lugar,
no lugar que lhe convém.
Sob o Jardim das Delícias
de delícias se falou;
do vinho do seu bouquet,
do sabor e do porque
do requinte à boa mesa,
do arroz da sobremesa,
das artes e das notícias.
Caro amigo esse jantar
entre o céu e o inferno
foi tão doce foi tão terno
que eu me vejo a recordar...
Das amarguras contidas
não se falou proibido
da sorte do partido
do futuro e do passado,
do ciúme disfarçado
provou-se entre as mordidas.
Uma boa amizade
vale mais que um amor,
vale o que vale uma flor:
desabrocha perfuma alegra
depois fenece sem dor.
SETE PEDRAS DE MARGATE
Aguá azul de coralinas
brancascatas de ondinas,
soladopé de solidéu
e nuventosas no céu.
Aguardentinas geladas,
salgadas redondinas,
salamelenas pequenas:
maravilhinhas marinhas....
Desdentes tubarolantes,
transparentivas salivas,
caracolentos gestantes,
brincadeirinhas amenas.
Borbolhudas gorgulhosas,
sorvetentes arenosas,
abissais pérolalindas,
papos de anjos prosas.
Brancuras de puro deleite:
sete pedras de Margate.
Leveduras que o mar
tem prazer de modelar...
BAOBÁ
Vou morar no baobá
careço de amenidades
que a natureza nos dá,
Por dentro todo verdinho
ele é auto sustentável,
com energia solar
e calorzinho agradável.
Grossas raízes sugarão
as águas da temporada,
quando chegar o verão
não precisarei de nada.
/>
Dos frutos farei um doce
do doce farei geleia,
vou contratar a rainha
e agitar a colmeia.
Aranhas afastarão
os insetos importunos,
e os morcegos serão
os visitantes noturnos.
Se acaso ficar doente
remédio farei das folhas,
permitirei à serpente
fazer melhores escolhas...
E se lá eu encontrar
um ancestral renitente
serei parceiro de lar,
silencioso e contente.
JANTAR BRASILEIRO (DO SÉC. XX)
Na casa grande a ceia
do casal português
Debret volta e meia
olhava e pintava
por gosto e mercês.
Repasto colossal
com carnes e aves
água de moringa
um pouco de pinga
do canavial.
Pra tirar o calor
cunhã empunhava
o abanador.
Negrinhos suaves
catavam migalhas
daquele esplendor.
Debret não sabia
Xangô não dormia
o sono ancestral:
lutou e venceu
metade do mal.
Cunhã tem salário
marido operário
com muito louvor.
E pra fazer vento
afastar mosquito
e bicho esquisito
liga o barulhento
ventilador.
Justiça ainda é pouca
nesta Terra louca
Debret não sabia
toda a fidalguia
ainda faria
muito desamor.
Mas Xangõ não deita
seu duplo machado:
na sombra espreita
o justo e o injusto
que na via estreita
colhem o resultado!
JANTAR BRASILEIRO DO SÉC. XXI
Debret desenhava
o Glauber filmava
o jantar seguia
de noite e de dia.
Ar condicionado
clima temperado
às vezes custoso
às vezes pilhado.
Capitão do mato
tem novo aparato;
o povo contudo
um pouco de tudo.
Nem moringa nem pinga.
O dono da mesa
tem ares de nobre,
é carta de coringa
que cobre e descobre
a ceia do pobre.
A mesa divide
poder de barganha
quem calcula mal
às vezes apanha.
Mas eis que do outro lado
cidadã empoderada
come frugal salada
faz do limão limonada,
e com diploma suado
arrisca a vida o futuro
Justiça - trabalho duro
faz do Direito aliado.