terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Arte contemporânea / viés antropológico

          Na atualidade a arte apresenta-se altamente fragmentada, absorve enxurrada de informações que atravessam o mundo em segundos, o texto e o contexto estão em modificação constante. Cada artista, na sua escolha solitária, funda a linguagem que melhor responde às suas preocupações. O interesse antropológico (relativo aos costumes, crenças, comportamentos, organização social) é maior do que o interesse pela estética da obra, embora a beleza não esteja completamente ausente.
          A dimensão conceitual ( significado profundo, revivido e repensado) emerge na execução prática, espécie de inventário coletivo com  sobreposição, acumulação e colecionismo de objetos significativos.  
         
        Kcho ( Alexis L. Machado) criou "A Regata" (1994), obra inspirada no êxodo dos cubanos que se arriscam na travessia marítima para os Estados Unidos. A obra é uma frota em miniatura, feita de madeira e restos de barcos e jangadas naufragadas que o mar lança de volta na ilha de Cuba. Triste memória fugaz de um problema que se arrasta sem solução.

          Alguns artistas brasileiros destacam-se nessa corrente:
          Siron Franco fez "Monumento às nações indígenas" (1990) em Goiânia. Levantou 500 colunas em concreto armado que em vista aérea formam o mapa do Brasil, e simbolizam tótens, com esculturas em relêvo e desenhos grafados em suas faces laterais. São representações de objetos rituais sagrados de diferentes povos indígenas, alguns anteriores à colonização. É um tipo de memorial que homenageia os primeiros habitantes do Brasil.
          Farnese de Andrade recriou sua experiência pessoal no contexto de uma família mineira problemática, e foi além, abordou questões políticas, sociais, religiosas, sexuais e a própria criatividade na obra de arte. Trabalhou com materiais descartados, lixo recolhido nas praias, e fez armários, oratórios, gamelas e ex-votos nada convencionais. Uniu peças díspares para testemunhar  de modo inquietante a memória de fatos políticos, retratos, símbolos da vida e da morte, o luto e a perda dos parâmetros existenciais num contexto histórico altamente desarticulado e terrivelmente comovente.

          Rosangela Rennó denuncia o esquecimento que está no fundo da memória massificada. Expôs álbuns de retratos de famílias, fotografias de prisioneiros, álbuns de casamentos - lembranças coletivas e pessoais que jazem no imaginário popular. Em 1993 declarou: " Gosto muito de ter consciência de ser perversa  com o código fotográfico, a sociedade, o rosto, a realidade. Talvez o desejo de mudar a realidade de certo modo...".
         
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          Atividades criativas de interesse antropológico podem ser realizadas em sala de aula pelas crianças: colecionar retratos antigos 3x4, fotos de casamentos, primeira comunhão, etc. e expor (em determinado dia) sobre uma mesa coberta de plástico transparente.
          Podem também colecionar álbuns de figurinhas, selos, imãs de geladeira, chaveiros, robôs, bonecas, carrinhos, etc. Melhor que a atividade faça parte de um projeto maior de tema aberto.

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