domingo, 3 de fevereiro de 2013

O valor da obra de arte


          Se "Arte é o que eu e você chamamos arte", como disse o crítico Frederico  Morais, então o valor da obra de arte é também o que eu e você creditamos a ela.
          Para o artista a obra vale pelas condições ( psicológicas, temporais, locais) em que foi criada,pela dimensão do projeto que representa ( um esquema, croqui para futuros aproveitamentos), pelo conjunto que faz com outros trabalhos do artista, pelo melhor ou pior resultado da experimentação, pelo valor sentimental, pela dificuldade ou facilidade em realizá-la ( habilidade com os materiais), pelo resultado imprevisível, pelo resultado satisfatório, pela estética (relação com a beleza e harmonia), e até pelo desejo de conservá-la consigo ou não.
          Sobre isso contam uma história interessante: um nobre e rico senhor foi visitar o atelier de Picasso. Examinou as obras uma a uma, mas considerou-as todas muito caras. Por fim, pegou um pequeno desenho e perguntou o preço. Picasso disse um preço altíssimo, maior do que os das pinturas expostas. Então o senhor perguntou porque custava tão caro....E recebeu uma resposta inesperada: porque tratava- se de uma idéia nascente de um projeto que ele precisava amadurecer. E quem sabe o que se tornaria futuramente? Uma pintura?... uma escultura?...uma estrutura armada?...um painel?...uma cerâmica?...Sendo assim, vender uma idéia é vender toda a obra.
          Para o museólogo, o valor da obra está ligado ao estilo, às correntes artísticas a que pertence, à originalidade dentro do mesmo estilo.  O material ( metais nobres, pedras preciosas, pedras em geral, qualidade do mármore ( com ou sem veios) , qualidade das tintas, pergaminhos, papiros,  papéis e outras especificidades técnicas. O estado de conservação da obra é importante porque se a obra está em bom estado tem maior valor. As boas restaurações apagam vestígios do tempo, limpam pátinas, poeiras, mofos e estragos sem alterar o estilo do artista.
          A própria trajetória da obra (aquisição, eventual roubo, recuperação, doação etc.) torna o obra mais conhecida e famosa, e portanto mais vulnerável. Isso engendra diferentes tipos de exibição, inclusive questões de segurança e distanciamento do público. O curador de uma exposição enfrenta a mesma problemática, inclusive a  lógica na disposição  das obras. O antiquário utiliza os mesmos princípios, porém precisa estar atualizado com o mercado de arte para fixar os preços.
          O historiador, por conhecer profundamente a obra e o artista, é o mais apto a valorar. E se os historiadores consideram Miguel Ângelo o maior entre os escultores, não é apenas pela beleza e perfeição de suas obras. Mas porque foi o único entre todos os demais que teve a coragem de atacar o mármore de grandes dimensões, sem haver feito antes um protótipo de igual tamanho em gesso, para tirar medidas idênticas em proporção. Ele fazia pequenos esboços em argila, e partia para a execução em grande escala. Requer muita confiança em si, pois desde que a matéria é retirada, a pedra é cortada, não dá mais para voltar atrás. Por conhecer todos esses detalhes é que a apreciação do historiador é bastante confiável.
        O crítico de arte (que é uma espécie de historiador) explica de forma acessível ao grande público a trajetória do artista e o significado da obra.
         O marchand ( ou comerciante) conhece a obra e sua aprovação por parte do público nos leilões e galerias de arte. Quando trabalha com artistas em rede, isto é, quando um grande grupo ou empresa realiza uma obra que deverá ser exposta em diferentes países, com prévia conexão midiática, então o valor monetário é fixado com antecipação.
          O colecionador costuma ser um amante da arte, um conhecedor diletante, alguém que adquire por prazer, desejoso de gozar um bem para sua satisfação pessoal e por muito tempo. Busca então afinidades eletivas.
          Hoje encontram-se colecionadores como Leon Kraushar, que disse ;" Eu nem mesmo olho os quadros, apenas sei que estão ali -- e que tenho a maior e a melhor coleção do mundo" (anos 60 séc. XX). Mas esse não é o perfil comum dos colecionadores, é um fenômeno da pop art norte americana.
          Para o professor a melhor obra é  a que pode elucidar questões da arte para que seus alunos compreendam a evolução e trajetória da obra no âmbito da história da arte.
          O expert (ou especialista) estuda o aspecto físico da obra: tipo de tinta, estilo de pincelada, qualidade da tela ou qualquer outro suporte. Possui aparelhos muito sofisticados para fotografar as camadas superpostas de tinta, e pode dizer com precisão se existe outro desenho embaixo da superfície visível. Pode também  confirmar ou não a autoria da obra, mesmo que ela não possua assinatura.
          O restaurador trabalha apoiado nas conclusões do especialista; ele conserta os eventuais danos e desgastes do tempo.
          Para o observador comum o valor da obra depende da profundidade de seu conhecimento, o que possibilitará uma avaliação superficial ou profunda acerca de todas as questões sutis do universo da arte. Culturas diferentes têm percepções diferentes. A idade , maturidade e experiência do observador concorrem para diferentes olhares, e podem variar bastante com o passar do tempo.
          Não se olha uma pintura do séc. XV da mesma maneira como se olha uma obra contemporânea de acumulação de materiais, uma video- instalação ou uma fotografia impressa num livro de arte . São linguagens diferentes que demandam critérios diferentes de fruição e de valor.
          Esse é um resumo bastante limitado. Naturalmente cada categoria poderá falar melhor por si mesma e ampliar o âmbito da discussão.
Procurar:
Frederico Morais : O Trabalho do Crítico - Youtube
         
         

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