sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Bom Humor

          Quando Baltasar Gracián escreveu " A Arte da Prudência" no séc. XVII, fez uma apreciação inteligente de como conduzir-se numa sociedade hostil como era a Espanha naquela época.  

           Diz ele: "(...) Um pouco de graça tudo tempera. Os grandes homens também têm a arte da jovialidade, que atrai a simpatia de todos, mas sempre respeitando a prudência e guardando o decoro (...)".
          Baseados nesse pensamento ( ou indiferentes a ele) humoristas criaram e criam seus personagens, inspirando-se no comportamento geral. Tipos regionais, profissões específicas, grupos urbanos e rurais, relacionamento familiar, fábulas adaptadas, mitologia urbana, sexo, religião e política são os temas preferidos. O artista aprofunda suas percepções, observa atentemente e descobre os pontos de interseção entre um comportamento padrão e outro contraditório ou irreverente, e assim conduz a experiência ao efeito inesperado, que é a própria graça. Analogias, metáforas, atos falhos, exagero e mal entendidos podem ser matéria para o risível.
          Tenha o  humorista uma boa idéia e pode simplificar os tipos imaginados, fazendo valer suas representações, através de detalhes como roupas, acessórios, etc. É o caso dos personagens de Chico Anísio, Os Simpsons, a Turma do Pererê, Chaves, A Rebordosa, Gente Fina, Radical Chic, que reúnem características de setores da sociedade, e não imitam uma pessoa específica.
          Porém, mais adiante Baltasar Gracián avisa: " (...) Aquele que não sabe discernir entre o que há de bom nas coisas deve dissimular sua inteligência limitada. Não se deve criticar sem consideração: o mau gosto normalmente nasce da ignorância (...)".
          Quer dizer que não basta ser desenhista para fazer humor. Há que saber analisar o conteúdo da crítica, ter uma fonte segura de informações,estar consciente do que vai insinuar ou mostrar, e testar o efeito antes de publicar.
          No caso de temas que dialogam com situações mal resolvidas como pressões internacionais, corrupção, globalização, má administração etc. a crítica não deve ser feita de forma leviana. Em caso de dúvida é melhor não fazer a piada.
          Especialmente o caricaturista, que concentra em poucos traços detalhes da fisionomia ( exagerando-os, apreendendo trejeitos, manias e hábitos) de pessoas públicas precisa precaver-se da antipatia do retorno. Pode acontecer da crítica não ser bem compreendida e a pessoa visada sentir-se ridicularizada e vingar-se.
          Ao contrário do que algumas pessoas pensam, a caricatura é uma arte difícil e muito séria, que congela em segundos um aspecto da realidade que só ao artista foi possível perceber.
          
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          Professores de alunos com facilidade em expressar humor nos desenhos precisam orientá-los corretamente. Se não for possível ajudá-los na elaboração do desenho de seus personagens, ao menos que possam aprofundar juntos as pesquisas dos assuntos relacionados. Criar um grupo de suporte para debates também é uma boa ideia.

         
         

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