quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O grafite

          Nos anos 60 e 70 do séc. XX jovens de todo o mundo usavam o espaço público para afirmar protesto contra a cultura estabelecida. Eram comuns  dizeres como "É proibido proibir", "Abaixo a ditadura", "Faça amor, não faça a guerra", que demonstram as preocupações sociais e políticas da coletividade. Daquela  época são os 56 murais que cobrem as colunas do viaduto do Caju, pintados por José Datrino, o Profeta Gentileza, que na sua luta solitária defendia a causa pacifista.


          No final dos anos 70 o grafite  transformou-se  em expressões cifradas de garotos dos bairros populares das grandes cidades. Não tinham intenção política, nem pornográfica, nem dialogavam com a sociedade. Eram apenas sistemas de comunicação entre grupos.
          De modo que o grafite começou com agressividade, contestação, tipo pichação, mas acabou transformando-se em expressão artística. As assinaturas viraram pinturas e passaram a circular nos segmentos artísticos pós-modernos - trocas de experiências de mão dupla entre a elite e os excluídos. Dos muros da periferia o grafite migrou para os trens e metrôs, e daí para espaços mais nobres, bienais e galerias de arte.
          Hoje as autoridades têm consciência de que conduzir a prática do grafite a um fim útil, que substitua o hábito aleatório de pichar muros por expressões significativas da pluralidade urbana é melhor do que gastar tempo e dinheiro para corrigir a poluição visual que descaracteriza os patrimônios históricos e prejudica o turismo.
          Ações afirmativas que conseguem agregar grupos de pichadores, e os orientam sobre os espaços disponíveis e autorizados na cidade, enquanto se conscientizam do valor histórico dos prédios a serem preservados, sempre serão benvindas. Demandam uma espécie de redirecionamento na temática: incentivar a pesquisa de personagens e figuras típicas dos bairros, atores, cantores, compositores, letras de canções populares, representações de carnaval, fantasias famosas, manifestações religiosas e folclóricas, esportes, personagens de histórias em quadrinhos, caricaturas de famosos, filmes, jogos interativos, o próprio cenário do bairro, comunidades de redes sociais, etc. Tudo pode ser absorvido no universo do grafite, da complexidade urbana e fragmentada ao universo pessoal de cada um.
          Com sorte pode-se criar um grupo com consciência ecológica e preocupações ambientais e então desenvolver grafites de impacto para transformações sociais que trarão benefícios no futuro.
          Procurar sempre spray que não contenha agentes químicos que causem danos ao meio ambiente e à saúde são cuidados essenciais. Construir uma página na internet para postar os trabalhos e incorporar candidatos a se reunirem ao grupo também.
          A orientação de um arquiteto urbanista é fundamental.
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Mostra “Pacificadores” de Jaime Prades (objetos/esculturas )

         
         

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