A criatividade dos adultos pode ser exercida em três níveis:
No estado desperto, em que a pessoa "sonha acordado", reúne elementos díspares para organizar uma idéia criativa. Todos têm essa capacidade, do mais sofisticado engenheiro ao simples ajudante de pedreiro. Todos podem encontrar soluções originais para seus problemas, desde que permaneçam com a mente em estado receptivo, as idéias virão da pluraridade de canais sutis que sustentam a própria vida a que a humanidade está ligada.
Porém, como se trata de uma elaboração mental, a criatividade neste nível não tem ética. Um ladrão pode exercê-la tão bem quanto uma freira casta; não tem lugar, e até mesmo dentro de um trem lotado alguém pode estar engendrando um plano político criativo que venha a mudar a face de um país.
Já o estado "execução" diferencia-se quando exercido em grupo ou individualmente.
O grupo é um corpo cambiante que trabalha com idéias diferentes e que tenta harmonizá-las e conduzí-las à prática. O processo requer avanços contínuos em compreensão e sabedoria; quanto mais flexível o grupo, aproveita melhor as boas soluções e maior chance tem de êxito. É o caso de grupos teatrais, cinema, agências de propaganda, etc.
Mas o artista que trabalha sozinho conta apenas com sua bagagem física e psíquica, emprega corpo e mente numa só direção. Tem uma luta solitária para dominar os processos de execução, do projeto ao resultado, passando pelo inesperado. O fator cultural também interfere, porque um desenhista habituado a trabalhar nos moldes clássicos ocidentais ( perspectiva, anatomia, observação direta da natureza) pode levar algum tempo para estabelecer relações harmoniosas numa nova experiência estética - caso Paul Cézanne e o Monte sainte Victoire. Cada desenhista tem seu limite, e precisa trabalhar duro se quiser modificá-lo.
Neste nível a criatividade tem ética, que se revela na consciência da pessoa lúcida.Todos podem calcular as consequências boas ou más de suas ações.. Enganar-se nesse caso pode ser extremamente prejudicial para si e para os outros. - caso de artistas que se arrependem de certos papéis e de filmes que induzem a revoltas e crimes.
No estado onírico a criatividade exerce-se livremente, e a pessoa tem todo tipo de experiências sem inibições. " Só no reino dos sonhos o artista encontrou plena liberdade de criar " diz E. H. Gombrich. No caso de ter algum problema físico, ele pode projetar-se de forma simbólica nos sonhos. E se a pessoa está bem de saúde física e mental ( equilibrada e harmoniosa) pode ter experiências de altíssimo nível de criatividade ( áreas sutis), que superam em muito - em beleza e profundidade- as realizações dos níveis anteriores.
As crianças transitam sem distinção pelos três níveis: ( pensar / viver / sonhar) é uma única experiência que se desdobra continuamente. Suas criações são registros desse estado singular, por isso devem ser preservadas na íntegra, e protegidas de influências negativas que o convívio em sociedade eventualmente possa trazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário