Quando Marina Colasanti escreveu " Uma Ideia Toda Azul" -- história de um rei que na juventude teve uma linda ideia, mas guardou-a por receio e para que fosse aproveitada quando ele tivesse tempo. Mas os anos foram passando, e o rei envelhecido acaba desistindo da ideia--, sugeriu de forma simbólica e lírica problemas que envolvem a criação na arte.
Problemas que surgem desde a concepção da ideia, e seguem com as questões: é uma boa ideia?..é uma ideia original?....tenho meios de concretizá-la?...como?...onde?...devo guardá-la só para mim?...que perigos corro em compartilhar a minha ideia?...São perguntas muito humanas das quais nem sempre o autor tem todas as respostas. Necessita portanto de coragem* para desenvolver a esperança (em si mesmo e às vezes nos outros) de que pode dar certo, e de iniciativa para passar imediatamente à ação. Sem perder tempo, precisa aproveitar o entusiasmo.
O receio de que sua ideia possa ser copiada se justifica, mas não deve impedir a realização. Qualquer ideia é parte do Todo, faceta única e singular de um prisma formado por milhões de outras facetas, que se ajustam entre si.. As melhores criações da humanidade assentam-se sobre esforços de milhares de homens generosos, que através de séculos deram suas contribuições, e cujas identidades hoje se perdem no anonimato da história.
Nada permanece igual para sempre, tudo se transforma, só existe o eterno devir, a natureza que cria e que evolui sem cessar. Uma ideia no espaço é fervedouro para muitas outras ideias. E é bom que assim seja.
O resultado da criação, ou seja, a criatura, desde o parto não pertence mais à mãe. Está lançado seu destino, e sob diferentes olhares, será admirada, louvada, contestada, desprezada, esquecida, reconsiderada, lastimada, aceita e rejeitada, segundo as percepções e através dos tempos. Também pode ser retomada e modificada pelo próprio autor.
Essas trajetórias podem transformar profundamente o artista, e suas consequências fazem a alegria dos psicanalistas porque têm muito a descobrir e analisar, e o desespero dos estudantes de arte, porque através de indícios precisam traçar os rumos das disposições e identificar mudanças de estilo e fases.
Quanto às crianças, acontece às vezes de uma criança ter ascendência sobre outra, que passa a copiá-la. É um período muito delicado. O orientador precisa reforçar a autoestima da criança insegura: primeiro promover atividades com material diferenciado; só depois de algum tempo realizar desenho e pintura, com as crianças separadas uma da outra. O problema não é a cópia, mas a insegurança. Elogiar os esforços da criança tímida.
* ler "A Coragem de Criar" de Rollo May, Editora Nova Fronteira.
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