domingo, 30 de dezembro de 2012

Criatividade espontânea

          Parece que os artistas sempre utilizaram a semelhança das formas encontradas e observadas ao acaso para transformá-las. O processo começa pelo reconhecimento (identificação da forma com uma imagem pessoal de recordação), seguido da mudança ou adaptação em pequenos detalhes.
          Assim, a pessoa que encontrou um relevo proeminente  (bossu) na gruta de Altamira, na Espanha  há 15.000  ac, identificou-o com o corpo forte de um bisão, animal que ele conhecia muito bem. Então usou a forma convexa para preencher a pintura do tórax potente, e acrescentar detalhes do focinho, patas e rabo...
        Manchas indefinidas, formações instáveis, contornos imprecisos, transparências e protuberâncias costumam desencadear o efeito de comparação.
          Inspirar-se em formações nebulosas foi considerado por Vasari sintoma( morbidez), mas Leonardo da Vinci considerava um método para a criatividade  muito praticado na China pelos pintores de paisagens. Recomendou olhar as paredes úmidas, as cinzas do fogo, as nuvens, a lama...* para descobrir formas que tenham repercussão no subconsciente, e cheguem a aflorar espontaneamente na atividade consciente.
          * Damisch, Hubert "Théorie du nuage " Éditions du Seuil, Paris, 1972
       ---------------------------------------------------------------------
          Crianças são mestres em conduzir o processo. É suficiente dar-lhes oportunidade : a monotipia, por exemplo, impressão gráfica de tiragem única.
          Consiga o orientador um vidro de tampo de mesa, com cantos arredondados, tinta plástica, guache ou ecoline; permita que derramem a tinta sucessivas vezes sobre o vidro, apertem o papel sobre as manchas, imprimam as cópias. Resultará uma variedade de formas que as crianças aproveitarão para completar com desenhos a canetinha ou com pincel.
          Há alguns anos, participando dessa experiência, vi o grupo escolher as mais belas cores e formas para criar,  desprezando uma mancha marrom que  cobria a parte inferior de um papel, na horizontal. Um menino de 5 anos pegou o papel, olhou-o por alguns minutos, dobrou-o em três partes, e :  desenhou na primeira parte um cavalo que se dirigia para a mancha; na segunda parte o cavalo tinha  a pata na mancha e respingos para os lados;  na terceira parte pintou grama verde e  muitas e muitas flores coloridas  de variadas formas, criou assim um lindo jardim....
          Explicação do menino:" O cavalo vinha pelo caminho, escorregou na lama, respingou na grama que ficou molhada, e fez nascer as flores" .....Tudo isso imaginado a partir  de uma mancha disforme...
         
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário